terça-feira, abril 19, 2011

Filhos de Assassinos



Alguns excertos da estreia da peça "Filhos de Assassinos" de Katori Hall, produzida pelo TnE e encenada por Jaime Pacheco.

Apoios: AEC, CMV, Culturgest (Panos).
Local: Centro Cultural de Campo, Valongo.

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sábado, fevereiro 10, 2007

A Toca do Lobo

Novo blog em:

A Toca do Lobo

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domingo, fevereiro 04, 2007

SIM!

No próximo dia 11 de Fevereiro vou votar SIM, porque nesta como em outras questões gosto de pensar pela minha cabeça.

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segunda-feira, janeiro 23, 2006

A Vitória Anunciada

Tal como se esperava Cavaco Silva venceu as eleições presidenciais de 22 de Janeiro.

Curiosamente o candidato da direita venceu por uma margem mínima, bem longe da vitória esmagadora que se anunciava, mas, por mais ou por menos, isso é um factor de somenos, o importante é que ganhou.

Cavaco Silva, o homem dos tabús, preparou ao longo de 10 anos a vitória nas presidenciais e a estratégia resultou. Não foi uma vitória do PSD, nem muito menos do CDS/PP, foi sem dúvida uma vitória pessoal de alguém que soube, como poucos, esperar o momento certo e manipular, ou colocar ao seu serviço, aqueles que agora tentam pôr-se em bicos de pés para conseguir alguns louros, esquecendo-se que estrategicamente não desempenharam papel nenhum a não ser o de se colocarem ao serviço do candidato como se de marionetas se tratassem. No fim da festa, tal como Pinóquio, as marionetas pretendem ganhar vida própria, esquecendo-se que Cavaco (o Gepeto que lhes dá a vida) conhece bem o material com que se fazem os bonecos.

A eleição de Cavaco Silva mais, mas muito mais, que uma vitória dos partidos que o apoiaram, foi uma vitória de José Socrates. Sócrates tem o Presidente que sempre desejou no actual panorama político do País. O Primeiro-Ministro governa à direita por isso o melhor que lhe podia acontecer era um Presidente que apoiasse inequivocamente a sua política, o que infalivelmente vai acontecer. Por isso é que Mário Soares foi atirado para a selva, pois qualquer outro vencedor, que não Cavaco Silva, e em particular Manuel Alegre, seria uma ameaça para o Governo. Neste contexto Mário Soares foi simplesmente o candidato descartável que serviu de ponte para a eleição de Cavaco Silva.

Quanto a Manuel Alegre esteve a um pequeno passo de se transformar num grão na engrenagem do sistema partidocrático português. Nesta perspectiva lamento que não o tenha conseguido, pois ajudaria a clarificar muita coisa. Mas a ver vamos o que nos reserva o futuro.

Os restantes candidatos cumpriram o seu papel. Jerónimo de Sousa, Francisco Louçã e Garcia Pereira foram os únicos que discutiram ideias, concorde-se ou não com elas e com eles, mas o povo não quer ideias, o povo quer um messias, omnisciente e omnipresente, vulgo big brother, pois aí o têm, um big brother bicéfalo. O mesmo caminho delineado por duas cabeças: a de Sócrates e a de Cavaco.

Como nota de rodapé não quero deixar de referir a vergonhosa atitude de José Sócrates ao fazer coincidir a sua comunicação com a de Manuel Alegre e, pior ainda, a subserviência das televisões ao poder ao colocaram no ar o Primeiro Ministro, chutando para canto o candidato Manuel Alegre. Simplesmente abominável.

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País democrático? E esperam que eu acredite nisso?

Estes são os resultados das eleições de ontem num país não democrático chamado Portugal (com 2 freguesias por apurar):

Cavaco Silva...............2745491 votos.....50,59%
Manuel Alegre............1124662 votos.....20,72%
Mário Soares................778389 votos.....14.34%
Jerónimo de Sousa.......466428 votos......8,59%
Francisco Louçã...........288224 votos......5,31%
Garcia Pereira................23650 votos......0,44%

Segundo a lei eleitoral referente à votação para a Presidência da República, os votos em branco não contam para o apuramento das percentagens dos candidatos.

Nas eleições de ontem registaram-se (com 2 freguesias por apurar) 58.868 votos em branco, o que corresponde a uma percentagem de 1,06% de todos os votantes.

Se Portugal fosse um país democrático, a opinião de quase 60.000 pessoas seria tida em consideração. Num país em que bastam 7.500 assinaturas para levar um candidato a votação, a opinião de um número de pessoas suficiente para validar quase 8 candidatos não é contabilizada.

Na eleição para PR, assumir que não se quer nenhum dos candidatos e expressá-lo votando em branco é igual a escrever no boletim de voto "P*** que vos pariu a todos!"

Se é assim que eles querem...

Eis os resultados que teríamos se este país fosse democrático (com 2 freguesias por apurar):

Cavaco Silva...............2745491 votos.....50,05%
Manuel Alegre............1124662 votos.....20,50%
Mário Soares................778389 votos.....14.19%
Jerónimo de Sousa.......466428 votos......8,20%
Francisco Louçã...........288224 votos......5,25%
Garcia Pereira................23650 votos......0,43%
(votos em branco: 58868 - 1,07%)

Ou seja, na versão real (a não democrática), Cavaco Silva ganha à 1ª volta com metade e mais 32.069 votos (50,59%) e na versão democrática, Cavaco Silva ainda ganha à 1ª volta mas apenas com metade e mais 2.635 votos (50,05%).

Como é que se pode ignorar a votação de portugueses que, todos juntos têm muito mais do que o dobro do que o resultado de um dos candidatos a votação?

Foi por muito pouco que a quantidade de votos em branco não apresentou números que poderiam levar a eleição a uma segunda volta. Ao menos poupa-se algum dinheiro ao país (sim, eu sei que é apenas uma questão de bolso - se não vai para um, vai para outro - mas eu gosto de me enganar a mim próprio).

Entretanto, não sei se repararam, mas os votos em branco tiram mais percentagem a quem tem mais votos por isso, neste caso, à direita.

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quarta-feira, janeiro 18, 2006

Agora sim, "comícios"!

Dizem que a palavra foi inventada pelos romanos.

Ora nós sabemos que os romanos eram muito amigos dos "comes e bebes".

Afinal os Jantares-comício não são uma artimanha para as salas não ficarem às moscas. Antes houve alguém que resolveu dar à palavra Comício o seu verdadeiro sentido!

Assim sendo, meus amigos, não só podem deixar de lhes chamar redundantemente Jantares-comício e passar a referir-se a eles como Comícios, como ficamos a saber que o que se fazia antes era outra coisa qualquer que se poderia designar como Gritício (na parte do público) ou (na parte dos candidatos) como Falício.

Bom, para além de não soar nada bem, não tenho a certeza que, no que concerne aos candidatos, a actividade tenha mudado por aí além.

...
A não ser que Comício, em vez de vir de comida, tenha a ver com "cómico".

A ser assim, da maneira que as coisas andam, bem lhes podem mudar o nome que eu não lhes acho gracinha nenhuma!

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segunda-feira, janeiro 16, 2006

Não é bem atirar a toalha...

Do que se trata aqui é de não deixar que continuem a fazer de mim parvo!

Ora vejamos...

Cavaco inventou o défice, Cavaco inventou o regimento de carreiras da função pública, Cavaco isto, Cavaco aquilo... dizem os outros, para nós ficarmos a saber.
Cavaco não diz nada e, quando diz, diz asneira. Cavaco não quer debater. Os outros protestam (fica-lhes bem) mas aceitam.

Cavaco não é político profissional. Obviamente!

Se tentasse fazer exame para o ser, chumbava!

Cavaco não conhece o país. Conhece a família e a faculdade!

Mário Soares sim, é político profissional! É um animal político! Sim, mas um predador!

Mário Soares move-se com destreza, ajudado pelo seu clã. Faz parte de todas as seitas que lhe dão jeito e tem o dom de ser, em terra de cegos (os outros candidatos) o que tem o maior olho.

Supostamente seria assim, se não estivesse na eminência de perder já à primeira volta. Então começamos a vê-lo a morder sem nexo, a falhar o pescoço da presa.
Será a velhice da fera? Ou é mesmo desespero?

Manuel Alegre é o poeta, o rosto da utopia, a última esperança daqueles que ainda acreditam na liberdade.
Será?

Manuel Alegre é o orgulho ferido. Manuel Alegre quer ajustar contas com Sócrates, que o impediu de passar de alto funcionário do aparelho para líder.
Manuel Alegre é um moralista (ou até isso será pose?). Fala de fraternidade, de decência, de pátria (mas sempre à esquerda).

Manuel Alegre é oportunista ao usar Cunhal? É sim senhor!

Manuel Alegre tem o direito de usar Cunhal? Tem sim senhor, como os outros têm o direito de usar Sousa Franco, Sá Carneiro ou Salazar. Afinal vale tudo, não é?
Manuel Alegre foi contra a co-incineração no distrito de Coimbra. Muito bem, é a sua função. Mas Manuel Alegre é deputado da nação. Se a co-incineração era má para Coimbra não o seria também para o Parque Natural da Arrábida? Manuel Alegre não sabe onde é a Arrabida. Está lá por Coimbra, quer lá saber da pátria e do orçamento de estado para alguma coisa!

Jerónimo é o discurso do costume, mas em versão simpática. Os fantasmas são os mesmos, os herois os mesmos são.

Jerónimo ficou ofendido por Alegre mencionar Cunhal!

Sacrilégio! Alguém pôs a minha cassete a tocar noutro leitor!

Louçã sabe muito! Foi sempre o melhor da turma!

Agora descobriu que o estado nunca (desde Cavaco, como convém) cumpriu a lei na atribuição de fundos do orçamento de estado para a segurança social.

Há quanto tempo é que Louçã está no Parlamento?

Quantos orçamentos já votou?

Se o Estado não cumpre a lei, porque é que Louçã não processou o estado?
Só descobriu a marosca agora ou estava a guardar o trunfo?

Louçã passou rapidamente de atirador de bosta a políticos para organizador de jantares-comício com ecrans gigantes e consultores de imagem. Não se sentem enganados? Eu sentia!

Garcia Pereira é a vitima!

Porque é, de facto. Não faz parte do jogo, tem de dar pulinhos, acenar muito e protestar até que o vejam e o deixem brincar um bocadinho com a televisão.
Garcia Pereira é incómodo e fala como quem não deve e não teme. Estar fora do jogo, afinal é cómodo.

Garcia Pereira é injuriado por ser advogado de defesa de um qualquer "direitista". Não sei se o é por acreditar na inocência do tal "direitista" mas, se assim é, se calhar deviam era aplaudi-lo.

Garcia Pereira é advogado de direito do trabalho, sabe que o Estado não cumpre a lei nesse domínio e está dentro do assunto como poucos em Portugal. Garcia Pereira já fez a respectiva denúncia?

E lá andam eles, escondendo o jogo mas mostrando as cartas, prometendo coisas que sabem não ser da competência do Presidente da República mas que ficam sempre bem numa campanha, fazendo campanha com os defeitos dos outros, que as qualidades, por muito que as estiquem e as pintem de cores bonitas, não convencem ninguém.

Um voto em branco não é atirar a toalha ao chão!

Um voto em branco é dizer: "Já conheço essa receita, já comi disso e não gosto!".

Um voto em branco é dizer: "Venham outros, que estes já cheiram mal!".

Um voto em branco, por muito que o escondam, mostra que nem tudo se divide em maiorias e minorias.

Um voto em branco só é um voto à direita para a esquerda! Para a direita é um voto à esquerda. Já alguém tinha pensado nisto?

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Na Hora de Decidir

Na sequência dos comentários deixados ao meu desabafo anterior sobre as Presidenciais 2006, nomeadamente pelo amigo que muito prezo, Muguele, do João Coutinho e ainda do amigo João Tunes, blogueiro imérito, do Água Lisa, venho esclarecer o seguinte e clarificar, tanto quanto me é possível, a minha opção.

É verdade que ainda não tenho uma decisão final sobre quem votarei na primeira volta, tudo dependerá da forma como correrer esta última semana de campanha, mas muito provavelmente acabarei por, na hora de colocar o xis no quadrado, optar por Manuel Alegre.

Esta minha decisão acenta na convicção crescente de que Manuel Alegre, para além de merecer o meu respeito, é o único candidato da esquerda que poderá defrontar, com êxito, Cavaco Silva, numa eventual segunda volta. Ao optar por Manuel Alegre já na primeira volta não estou a engolir nenhum sapo e também não ficarei com o amargo de boca de não ter feito o que não estava ao meu alcance para evitar que alguém que se encontra nos antípodas do meu pensamento possa ocupar a Presidência do meu País.

Para o Muguele uma palavra de compreensão, mas também acho que ainda não é altura de deitar a toalha ao chão. Desistir só a inevitabilidade da morte me forçará tal sorte.

Está na hora de voltar a acreditar que a utopia ainda é possível, por isso o mais provável é que na hora, no último segundo do último minuto, a minha opção seja Manuel Alegre.

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sábado, janeiro 14, 2006

Presidenciais 2006

Espelho, espelho meu...

Ontem fui ver o filme King Kong, interessante filme e não só pela qualidade dos efeitos especiais.

Neste filme e a dada altura, um dos personagens, escritor, faz o seguinte comentário a propósito de um actor hollywoodesco: "os actores viajam por muito lado, correm mundo, mas a única coisa que vêm é a sua imagem projectada no espelho".

Tal afirmação encaixa perfeitamente na maioria dos políticos da nossa praça.

Agora que se iniciou oficialmente a campanha eleitoral e os candidatos estão perfeitamente definidos, chegou a hora de fazer o meu pequeno comentário. Simples, como deve ser o de alguém que tem um caminho, mas gosta de perceber os caminhos dos outros.

Nesta campanha temos três lados. Um o da direita, perfeitamente definido, silencioso, submisso em torno do seu chefe. À espera do tempo das vacas gordas. Este bloco é liderado, como não podia deixar de ser, por Cavaco Silva. O candidato que nunca se engana e raramente tem dúvidas e que agora foi elevado à categoria divina por Valente de Oliveira que afirmou que é o candidato que tudo sabe, que tudo vê, que tudo... O candidato, que só diz o que as pessoas querem ouvir, cuja esposa submissa caminha nas suas costas, omnisciente e omnipresente, se não é deus deve ser no mínimo o big brother. Acabado de nascer, impoluto, virginal, imaculado, branco, este é o candidato sem passado e que só diz o que o povo quer ouvir, por mais primário que seja. A direita tem o seu candidato, pelo menos até à vitória (se vier a acontecer), depois se perder vai ser engraçado ver quem assume as responsabilidades, ou se ganhar quem vai querer ficar com os louros.

Ao "centro" temos o candidato que é da direita, do centro ou da esquerda conforme está mais perto ou mais longe da área do poder. É o senhor contradição, politíco politiqueiro, ou como outros, mais educados, lhe chamam: o animal político. Eis Mário Soares. Não hesita em usar os amigos, como também não hesita em virar-lhes as costas quando estes não servem as suas, ou ao seu clã, vaidades. Não é deus, nem rei, porque se diz republicano, ou será mais uma das suas contradições? Demagogo e homem de palavras fortes, caracteriza-se mais por acções fracas, mais de acordo com a sua demagogia do que com as suas palavras. Continua ainda a viver à sombra da capa do pai, velho republicano, capa essa que por mais que se estique já não chega para o seu filho. Soares precisa da "política" como qualquer um de nós, vulgar mortal, precisa de respirar e de se alimentar. No entanto temos que lhe fazer justiça, mesmo que não se goste do homem (e eu não gosto), desempenhou um papel importantíssimo na História recente de Portugal, o qual se arrisca a ficar manchado devido á sua teimosia e vaidade pessoal, ou será que é do seu clã?

À esquerda temos mais quatro candidatos: Manuel Alegre, Francisco Louçã, Jerónimo de Sousa e Garcia Pereira.

Quatro (ou se quisermos cinco, que eu aqui até incluo o outro, o de cima) personalidades diferentes, com passados diferentes, mas que têm em comum os valores, retórica e dialética da esquerda, assim como uma passado de luta contra a ditadura. No passado não viraram a cara à luta e não hesitaram em denunciar a prepotência e a falta de liberdade, não se esconderam, não se calaram, e por isso sofreram as consequências, mas não desistiram.

Alegre, o poeta, é um homem de fortes convicções e princípios, mas também um pouco narcísico, característica que lhe advém da sua qualidade de poeta. Sendo um homem de cultura, muitas vezes as suas ideias políticas parecem ficar no limbo que existe entre o real e o ideal. É, a meu ver, o candidato da utopia e, se não fosse por mais nada, já tinha por essa razão a minha consideração e respeito. Como dizia outro poeta: sempre que um homem sonha, o mundo pula e avança.

Francisco Louçã é um homem claro nas ideias, mas que precisava de passar pelo poder para que pudessemos aferir das suas reais capacidades de governação e verificar como conseguiria pôr em prática as excelentes ideias e princípios que defende em teoria. Tem aquele ar de seminarista ao qual não consegue escapar, mas que se esforça por desmentir sempre que sobre tal é questionado. Hoje Manuel Alegre chamou-lhe, com uma certa piada, um Cavaco virado do avesso. É alguém com um enorme potencial à espera da oportunidade de provar do que é capaz. Merece que nos dispamos de preconceitos e que finalmente lhe seja dada essa oportunidade.

Jerónimo de Sousa, o candidato operário. Simpático, direi até mesmo popular, mas a sua campanha presidencial não existe. Sabe que nunca lhe será dada essa responsabilidade, por isso está na campanha para tentar dar outra imagem do seu partido, até porque, na óptica marxista-leninista pura, cada eleição é mais um campo de batalha para prestar um serviço ao partido e servir interesses estratégicos mesmo que, como dizia Lenine, agora possamos dar um passo atrás para mais tarde dar dois em frente.

Garcia Pereira, o homem que nunca desiste de afirmar as suas convicções. Se não fosse por mais nada, pelo menos por isso Garcia Pereira merece a minha simpatia. Sem apoios, sem máquina, por carolice e por vontade política, lá vai o candidato tentando fazer passar a sua mensagem. Não conheço muito mais dele para além das suas fugazes aparições nas campanhas eleitorais e do seu passado pós 25 de Abril de militante maoísta, no entanto, justiça lhe seja feita, adaptou-se sem descartar as suas convicções ao contrário de outros como Durão Barroso ou Pacheco Pereira, pequeno-burgueses de origem, fizeram o percurso tradicional: revolucionários na juventude e conservadores na maturidade. Até parece que ser-se revolucionário é sinónimo de imaturidade, bem, pelo menos na cabeças daqueles senhores é.

É minha convicção que não são valorizadas nos candidatos presidenciais as suas ideias e convicções, mas muito mais os mitos e aparelhos partidários que estão por trás deles, por isso o voto é muitas vezes eivado de preconceito, consciente ou inconscientemente, e nenhum de nós escapa a este estigma. Aqui talvez o candidato que escape mais a esta análise deva ser Manuel Alegre, mas nem ele está livre desse julgamento preconceituoso.

E agora para encerrar que este post já vai longo. Na campanha poucas ideias têm sido discutidas, pois para além de ataques pessoais, mais ou menos dramáticos, ou de um ou outro assunto, que por variadas razões se encontra na ordem do dia, não se fala do desemprego, da justiça, das forças armadas, fiscalidade, etc.

Uma nota também muito negativa em relação ao PS. Ao envolver-se demasiado na campanha ao lado do seu candidato, está a fechar portas e a abrir brechas de instabilidade governativa (não é que não a mereça) caso o candidato eleito seja outro e não aquele que tão fervorosamente apoiam.

Por fim, apesar do voto ser secreto, quero deixar claras as minhas opções. Estou convencido de que o País precisa de uma segunda volta, para que a escolha do Presidente da República seja clara e não um mero artifício. Só com uma segunda volta os candidatos serão confrontados e se confrontarão com os reais problemas do País e não ficarão à espera que os jornalistas lhes façam as perguntas às quais não querem responder, mas que agora serão obrigados a fazê-lo, pois um deles será Presidente. Estou convencido que passarão à segunda volta o candidato da direita Cavaco Silva (crónica de uma vitória, ou semi-vitória anunciada ou fabricada) e o candidato da esquerda Manuel Alegre, por isso votarei Francisco Louçã na primeira volta e Manuel Alegre na segunda, caso seja este o candidato de esquerda. No entanto admito, sem qualquer relutância, alterar logo à primeira volta o meu sentido de voto, neste sentido a minha opção poderá ser logo à partida o voto em Manuel Alegre, para tanto basta, que durante a semana que vai decorrer, fique convencido que o candidato da utopia precise de todos os votos para passar à segunda. Neste caso o meu voto será, logo à primeira, Manuel Alegre.

Já aqui afirmei em artigo anterior que, caso a segunda volta seja entre Cavaco Silva e Mário Soares, não votarei em nenhum e, neste cenário o meu voto será branco ou nulo. Podem acusar-me de não ter cultura de esquerda, mas sapos já engoli uma vez e apanhei uma indigestão, por isso sapos nunca mais.

NOTA: A ordem porque são apresentados os candidatos não tem qualquer significado valorativo dos mesmos.

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quarta-feira, outubro 26, 2005

Seara de Natal

A Câmara de Sintra começou ontem a instalar as luzes de Natal aqui no sítio.
Não estou a falar da vila património mas de uma das povoações da chamada "zona tampão".
Nas últimas semanas têm-se sucedido as falhas de energia por aqui. Qual a solução? Sobrecarregar ainda mais uma instalação pública já deficitária. Excelente ideia!

Luzes de Natal a 25 de Outubro!

Situação geral:
Faltam dois meses para o Natal.
O País continua em seca severa.
O País está supostamente a tentar cortar nas despesas.
As autarquias vêem, por essa razão, os seus fundos substancialmente reduzidos.

Mais próximo:
O IC19 continua a não chegar para as encomendas. Está em obras de alargamento que não vão resolver o problema.
O IC16 continua por fazer.
A CRIL continua por terminar.
A construção continua a crescer apesar de a procura de casas ter decrescido.

Aqui no sítio:
Os espaços verdes têm sido tratados? Não!
O problema dos esgotos que entopem e rebentam está resolvido? Não!
Os passeios já foram arranjados? Não!
As ruas têm sido limpas? Não!
Os buracos das ruas já foram tapados? Não!
Há mais segurança nas ruas à noite? Nem de dia, quanto mais à noite!
Os parques infantis têm manutenção? Não!
Os carros de lavagem de ruas passam por aqui? Não!

Luzes de Natal a 25 de Agosto!

Feliz Natal onde quer que more, Dr. Seara!
E não se esqueça de comemorar o Dia das Bruxas, o Dia de Finados, O S. Martinho, o 25 de Novembro ( esse não esquece, pois), a Restauração e mais a Imaculada Conceição, que vêm todos antes, mas com luzes emprestadas.

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quinta-feira, outubro 13, 2005

Aerograma

Letra: João Monge
Música: João Gil
In: “Sepes” do Trovante

Deus queira que esta
Vos mate a fome aos sentidos
Por agora

Deus queira que esta
Vos guarde a dor aos gemidos
Noite fora

Dançamos fandangos
Sobre uma navalha
Pássaros em bando
Em nuvens de limalha

E assim eu cá vou indo

Vem-me o fel à boca
As tripas ao coração
A noite trás a forca pela sua mão

Sonho com fantasmas
De pele preta e luzidia
Com manuais de coragem e cobardia

Dizem que há sempre
Um barco azul para partir
Nosso hino
Embarca a alma
E os restos de um rosto a sorrir
Do destino

Põe o meu retrato
No altar de S. João
E uma vela com formato de canhão

Cansa-me esta escrita
Com dois dedos num baraço
Assim o quis a desdita
Vai um abraço

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sábado, setembro 17, 2005

Hoje Acordei Assim

A Cultura é uma chatice. Põe-nos a pensar.

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sexta-feira, setembro 16, 2005

Links

Estranho título para este post. Não, não é a palavra inglesa que utilizamos com frequência em informática e particularmente na net. Links é uma palavra alemã que significa esquerda.

De facto poucos serão os portugueses que sabem o seu significado, do mesmo modo poucos serão também os que sabem o significado de esquerda.

José Socrates no início do seu mandato de Primeiro-Ministro proferiu solenemente num discurso na Assembleia da República, que o país não poderia suportar por mais tempo que os ricos pagassem menos impostos do que os pobres e que para isso era preciso tonar medidas corajosas para combater a fraude e evasão fiscal, com medidas como o levantamento do sigilo bancário, medida há muito tempo reclamada pela esquerda, incluindo o partido que apoia Sócrates. Ora alguns meses depois o mesmo Sócrates e o mesmo partido vêm negar esta evidência e dar o dito por não dito.

O levantamento ao sigilo bancário não é nenhuma medida exclusiva da esquerda, pois muitos países Europeus e mesmo os Estados Unidos, a usam com sucesso para combater a fraude e evasão fiscal. Também não é nenhuma medidaa que sirva para um qualquer reality show televisivo ou para gáudio de imprensa de mexericos portuguesa.

Na minha profissão (ensino) vejo com frequência pessoas com evidentes sinais exteriores de riqueza a receber subsídios do Estado para terem os seus filhos a estudar e muitas vezes outros que até poderiam, ou deveriam, necessitar desses mesmos subsídios a não usufruirem de um único cêntimo do Estado.

Digam lá se não devemos ter o direito à indignação e à revolta contra este estado de coisas. Como diria o nosso saudoso Salgueiro Maia, temos o Estado de dDireita, o Estado de esquerda e o estado a que isto chegou...

O país está entregue à demagogia quer com os actuais como com os anteriores governantes as palavras valem conforme as circunstâncias e as ambições e demagogia política de cada um, isto é, não valem nada.

Poucos saberiam que links, em alemão, significa esquerda, como muitos também parecem continuar a não compreender o significado político da palavra esquerda, provavelmente não só os portugueses.

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segunda-feira, setembro 12, 2005

Não Percebo!

Por um lado, diz-se que o Presidente da República não tem poder nenhum. Por outro, critica-se o PR por fazer isto ou não fazer aquilo.

Por um lado, diz-se que o Presidente da República não tem poder nenhum. Por outro, em tempo de autárquicas, só se fala das eleições presidenciais.

Por um lado, diz-se que o Presidente da República não tem poder nenhum. Por outro, morre-se de medo da eleição de Cavaco Silva e receia-se a senilidade de Mário Soares.

Não percebo!

Só percebo a candidatura do Garcia Pereira. Ao menos consegue aparecer na televisão e mandar umas bocas!

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quinta-feira, setembro 08, 2005

Queres porrada???




Anda lá, Lisboa!
Queres porrada?
Deixa-me só acabar de arregaçar as mangas!
Vou-me a ti e desfaço-te em menos de quatro anos!
A ti e aos teus amigos!
Quantos são?
Anda cá, anda, que eu aliso-te as colinas!

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domingo, setembro 04, 2005

Perguntas a Katrina

Quem diria que o país mais poderoso do mundo revelaria tanta fragilidade perante um cataclismo natural perfeitamente estudado, acompanhado e vigiado até ao pormenor?

Quem imaginaria que o país mais rico do mundo revelaria à saciedade a pobreza e miséria que grassa no seu seio?

Quem se atreveria a dizer que as imagens que temos vistos tem a sua origem na superpotência mundial e não num qualquer país do terceiro mundo?

Quem duvida que a riqueza está mal distribuída?

Quem é que não assinou o protocolo de Kyoto?

Quem vai continuar a esperar sentado pela resolução dos problemas?

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sábado, setembro 03, 2005

Azar ter Nascido

Como é habitual todas as manhãs vou tomar um cafezinho a uma bomba de gasolina perto da minha casa e aproveito para lançar os olhos aos jornais e revistas que estão expostos mesmo em fente ao lugar onde tomo o meu café.

Um destes dias contava um jornal de referência dos mexericos da nossa praça, mais concretamente o "24 Horas", que tinha havida um desaguisado entre "actores" da novela "Morangos com Açucar". Um dos actores, ou intervenientes, não cheguei a perceber porque só li a capa, tinha acusado outro de atitudes racistas.

No dia seguinte na mesma primeira página do mesmo "órgão" de comunicação social e igualmente na primeira página, o acusado defende-se "inteligentemente" diga-se, que não é racista, o outro é que tinha tido o azar de ter nascido preto.

Fiquei estupefacto, ou talvez não, com tanta estupidez e admirado como é que a vulgaridade é notícia de primeira página de um órgão de informação, cujos profissionais podem ser tudo menos jornalistas.

O racismo é um fenómeno que, por vergonha, poucos admitem, sem contudo se aperceberem que nas suas mais banais atitudes o preconceito e a discriminação vem facilmente à tona de água. É certo que o racismo não é exclusivo dos brancos, é certo que discriminar positivamente é também uma atitude racista é, sobretudo mais que certo que ser anti-racista não passa por afirmá-lo, mas sim por sê-lo efectivamente em todas as atitudes.

O racismo é tão estúpido , pois se qualquer pessoa sabe que não vai marginalizar A ou B por usar um relógio de uma determinada marca, por medir mais ou menos do que 1,80 m, por usar sapatos altos, ou sapatos rasos, por ver telenovelas ou gostar de futebol, etc., porque é que se há-de discriminar por ter a pele branca, preta, amarela ou vermelha?

Para quem foi buscar ao baú das frases feitas da estupidez humana tal argumentação só me resta afirmar no mesmo sentido e utilizando uma frase simples e curta que possa ser facilmente assimilada por alguém cuja inteligência deve ter ficado no útero da mãe: azar ter nascido meu caro "actor".

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segunda-feira, agosto 29, 2005

O Animal Político

Normalmente designa-se Mário Soares como sendo um animal político alguns, mais exagerados, até o definem como o animal político.

Confesso que não gosto da expressão, mas também acho que ela assenta perfeitamente a Mário Soares, um ser que domina perfeitamente a selva da casta política.

Mário Soares mantém as qualidades e defeitos que o definem como pessoa e político e quanto a mim vejo-lhe mais defeitos do que qualidades.

Quando concorreu às primeiras eleições presidenciais a sua ânsia de poder e a sua ambição política e pessoal pôs fim a uma amizade pessoal e cumplicidade política de largos anos com Salgado Zenha. Na altura não votei em nenhum dos dois, pois optei por Lurdes Pintasilgo, mas não gostei do que vi. Na segunda volta fui obrigado a engolir o célebre sapo, mas dei a minha palavra de honra que, em circunstância alguma voltaria a fazer o mesmo.

Hoje o irrepetível parece estar a repetir-se, o denominador comum é o mesmo, Mário Soares, o outro factor é que variou, Manuel Alegre, mas a estratégia e ambições estão lá novamente, tal e qual como no tempo do duelo Soares-Zenha.

Mais do que votar em pessoas é preciso escolher projectos políticos e o de Mário Soares parece resumir-se à sua ambição pessoal. É esta a minha opinião.

Não votarei em Mário Soares em circunstância alguma, mesmo que numa eventual segunda volta as eleições se decidam entre ele e o candidato da direita (seja ele quem for), o tempo de engolir sapos acabou.

Nesta eventualidade a minha opção será pelo voto em branco ou nulo. A escolha do futuro presidente da república Portuguesa não é um jogo meus senhores e, como não é um jogo, não posso escolher irracionalmente, muito menos entre as duas faces da mesma moeda.

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Aos Poucos e Poucos cá vou Regressando

Meus amigos depois de uma ausência relativamente longa, à qual não é estranha a saturação de dois anos e tal a escrever banalidades pela blogosfera repartido por vários canais, eis que estou de regresso.

Melhor vou tentar regressar aos poucos e poucos.

Há promessas que não quero falhar, como por exemplo completar um artigo de introspecção pessoal que iniciei há já alguns meses atrás, Outra promessa que quero cumprir é o meu encontro com o amigo João Tunes do Água Lisa, que mais uma vez ficou adiado, não por culpa dele evidentemente, por por culpa minha que me quis afastar de tudo o que dissesse respeito à blogosfera, embora nunca tenha esquecido os seus escritos e as nossas trocas de opiniões, uma vezes concordantes outras nem tanto, ou até mesmo nada. Abraço João, a promessa não está esquecida.

Este meu regresso será mais comedido e a periodicidade com que escreverei banalidades por aqui será menor, não quero saturar-me novamente da blogosfera. Reduzo os meus blogues a 3: o "Acuso! 1", que passou a chamar-se "A Besta Humana" (sempre a inspiração do Zola), que será vocacionado para assuntos relacionados com a história ou destaques de artigos publicados no "Acuso!"; o "Acuso! 2", que passou a ser simplesmente "Acuso!" e será mais vocacionado para assuntos da actualidade; finalmente "A Chama do Dragão", que mantém o título e os objectivos. Os restantes irão desaparecendo naturalmente.

Pronto feitas as devidas actualizações vamos ao trabalho.

Um abraço a todos e em particular aos meus amigos e filho que foram esporadicamente escrevendo alguns artigos aqui, assim como a todos os que foram fazendo os seus comentários apesar da estagnação a que este blogues chegaram.

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domingo, agosto 28, 2005

Pergunta não muito Inocente

Alguém sabe se o Senhor Carlos Cruz já saldou as suas dívidas ao fisco?

Esta pergunta vem a propósito do seguinte: Aqui há alguns anos atrás o Sr Carlos Cruz, por pura ingenuidade, ficou a dever milhares ou milhões ao fisco, claro que não foi preso, nem provavelmente multado. Como é que o Senhor poderia pagar ao fisco se estava na miséria. Coitado. No entanto prometeu publicamente que não morreria sem pagar o último cêntimo da sua dívida. É um homem de bem e também de palavra.

Passado algum tempo e com a dívida por saldar, faz um casamento onde gasta balúrdios, pouco tempo depois acontece o famigerado caso "Casa Pia". A família passa mal, ficaram na miséria e a acrditar nas entrevistas dadas pela Senhora Raquel Cruz à imprensa cor-de-rosa só sobreviveram graças às ajudas dos amigos.

Entretanto o Senhor Carlos Cruz é libertado da prisão preventiva a que estava sujeito e aguarda o desfecho do julgamento em que é arguido. Esta semana essa mesma imprensa cor-de-rosa que tanto lhe tem dado a mão revela que o Senhor Carlos Cruz gastou 500 mil Euros para comprar uma casa de campo. Provavelmente graças aos seus amigos.

E a dívida ao fisco está saldada? Alguém sabe alguma coisa?

Por favor não insultem mais a inteligência das pessoas. Quanto ao julgamento "Casa Pia" não tenho inocentes nem culpados e aguardo serena e pacientemente o resultado do mesmo, mas quanto às dívidas ao fisco tenho muitas dúvidas da sua inocência e duvido seriamente que tenha saldado a dívida astronómica que tinha para com o Estado, isto é, para com todos nós.

Termino como comecei: Alguém sabe se o Senhor Carlos Cruz já saldou as suas dívidas ao fisco?

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quinta-feira, agosto 25, 2005

Pequena Fábula Portuguesa

Segundo parece, a partir de Setembro e por causa da gripe das aves, as galinhas portuguesas vão ter de ficar em casa. Teme-se uma diminuição drástica no número de mulheres a circular pelas ruas do país.

Pensando bem, o plano de contingência terá de ser muito mais abrangente e, quando nele forem incluídos as "aves raras", os pavões, os papagaios, os abutres e os "passarinhos totós", prevê-se o fim de todos os congestionamentos de trânsito, ficando apenas nas ruas os grandes porcos, as vacas, os burros, as bestas, as cavalgaduras, as mulas, as cabras, os cabrões e o resto da carneirada. Arranjaremos então planos contra a peste suína, a BSE, a febre equina e a brucelose e o país transformar-se-á num paraíso de tranquilidade!

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quinta-feira, agosto 18, 2005

Eugénio de Andrade

Poema - À memória de Eugénio de Andrade
de José Luís Peixoto


As palavras a assentarem sobre o silêncio. Cada uma das palavras a assentar sobre os objectos que nomeia e a envolvê-los. Existe em cada instante uma organização e uma tranquilidade da natureza. Ao mesmo tempo, cada palavra é a pedra de estátuas a olharem para séculos com os mesmos olhos que não vêm os jardins ou o musgo que lhes cobre a pele. Quando se passa um dedo pela página sente-se essa pele de pedra e de musgo. Mas existem também os gestos, brancos e necessários. É nesses gestos que nasce o vento. É esse vento, branco e necessário, que passa pelas palavras e que as veste novamente de silêncio para que cheguem novas palavras e sejam únicas.

Existe também uma mesa, uma cadeira e o corpo de um homem que faz parte dessa mesa e dessa cadeira. A constância da manhã é também o corpo desse homem germinal. O tempo está preparado para a explosão que existe dentro de si e que é uma ressurreição do próprio tempo. As palavras dizem esse milagre, mas não o explicam. O homem fica, a mesa e a cadeira, o homem fica, há também uma janela, o homem fica com esse milagre na palma da mão. Vê-o elevar-se até ao ponto mais infinito depois do céu. Aquilo que era mais importante ficou com o homem e com as palavras. Ninguém poderá chegar a esse momento em que o homem e as palavras se misturam. Ao contrário de todos os momentos do tempo, esse foi um momento imortal. E tudo o que era simples, tão simples, não pôde ser dito senão por metáforas. O homem olha para as metáforas que são como fumo, como árvores, e lembra-se da palavra proibida: amor. Existe qualquer coisa que está em todas as metáforas e que está dentro dessa palavra proibida. O homem vê o milagre subir para o céu, a combustão das palavras, as metáforas, o fumo, e lembra-se da vida, silêncio, pedra, musgo.

E tudo o que era simples, tão simples, uma única palavra proibida, escorreu com o sangue, fios de sangue a desenrolarem-se e a escorrerem pela cal. A manhã a atravessar o sangue que cobria a janela. A manhã a tocar o sangue que cobria a mesa e as páginas. Uma única palavra proibida. Um único milagre. E o silêncio, vento, a chegar como uma maré, como sal, como luz, e a cobrir cada objecto, e a anteceder as palavras que os envolvem. O homem esquece os braços e os olhos. A vida existe fora do seu corpo. O seu corpo existe fora do seu corpo. Nas palavras, o homem procura água. O homem vive, está vivo e encontra água. Os versos escorrem água. As letras são sonhos de água. O poema é um milagre, silêncio, séculos, pedra, tranquilidade, vento, uma mesa, uma janela, um homem, fumo, tempo, céu, amor, amor, amor, sangue, manhã, luz e água. O poema é um milagre, amor e água. Depois, cada palavra retira-se devagar dos objectos que nomeia. Depois, o silêncio.

Adeus
de Eugénio de Andrade


Já gastámos as palavras pela rua, meu amor,
e o que nos ficou não chega
para afastar o frio de quatro paredes.
Gastámos tudo menos o silêncio.
Gastámos os olhos com o sal das lágrimas,
gastámos as mãos à força de as apertarmos,
gastámos o relógio e as pedras das esquinas
em esperas inúteis.

Meto as mãos nas algibeiras e não encontro nada.
Antigamente tínhamos tanto para dar um ao outro;
era como se todas as coisas fossem minhas:
quanto mais te dava mais tinha para te dar.
Às vezes tu dizias: os teus olhos são peixes verdes.
E eu acreditava.
Acreditava,
porque ao teu lado
todas as coisas eram possíveis.

Mas isso era no tempo dos segredos,
era no tempo em que o teu corpo era um aquário,
era no tempo em que os meus olhos
eram realmente peixes verdes.
Hoje são apenas os meus olhos.
É pouco mas é verdade,
uns olhos como todos os outros.

Já gastámos as palavras.
Quando agora digo: meu amor,
já não se passa absolutamente nada.
E no entanto, antes das palavras gastas,
tenho a certeza
de que todas as coisas estremeciam
só de murmurar o teu nome
no silêncio do meu coração.

Não temos já nada para dar.
Dentro de ti
não há nada que me peça água.
O passado é inútil como um trapo.
E já te disse: as palavras estão gastas.

Adeus.

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sábado, agosto 13, 2005

A valsinha das medalhas



No próximo dia 14, os U2 vão ser condecorados por Jorge Sampaio com a Ordem da Liberdade.

Os membros do grupo confessam-se orgulhosos desta distinção que ainda não foi atribuida sequer a metade dos portugueses mas mostraram-se um pouco tristes por esta não lhes ter sido concedida no célebre certame "Beija-mão do 10 de Junho".
Para consolar estes nossos novos comendadores sempre lhes digo que a receberão no dia 14 de Agosto, dia da batalha de Aljubarrota, data memorável que fez com que ainda hoje não tenhamos de comer pão espanhol, possamos beber um café de jeito, não tenhamos centrais nucleares nem salários que comprem alguma coisa que se veja.
Sempre pensei que a banda a agraciar neste dia fosse a Ala dos Namorados e que a condecoração seria a Ordem da Padeira mas, amigo da pândega como é, Jorge Sampaio não pára de nos surpreender.

Eh, eh, ganda maluco!!!

(Publicado in Mug Music em 12-08-2005)

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