segunda-feira, janeiro 31, 2005

31 de Janeiro de 1891


Faz hoje 114 anos que, no Porto, se deu a primeira tentativa para derrubar o regime monárquico.

A Monarquia Constitucional estava em crise, a população atravessava momentos difícies, no ano anterior a cedência ao ultimato inglês, por causa da questão do mapa cor-de-rosa, criou na população um sentimente de humilhação e simultaneamente de revolta. Foi criada uma marcha intitulada "A Portuguesa", futuramente adoptada como Hino Nacional, mas que na altura terminava com um verso ligeiramente diferente: "Contra os Bretões marchar, marchar".

Os Republicanos aproveitaram esta situação para mais facilmente fazerem passar a sua mensagem. Neste contexto a população do Porto, que já tinha desempenhado um papel fundamental na Revolução Liberal, revoltou-se e, devidamente enquadrada pela burguesia republicana, tentou derrubar a Monarquia e implantar a República. Ainda era cedo e o resto do País não acompanhou os revoltosos do 31 de Janeiro.

No entanto se nesta data o comboio da mudança ainda não tinha carruagens suficientes, cerca de 20 anos depois, a 5 de Outubro de 1910, a máquina já não tinha travões que fossem capazes de alterar a marcha da transformação.

A revolta do 31 de Janeiro no Porto, embora tivesse fracassado, lançou a semente que mais tarde iria frutificar em Lisboa e em Portugal inteiro.

VIVA O 31 DE JANEIRO!

VIVA A REPÚBLICA!

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sexta-feira, janeiro 28, 2005

Bem versus Mal

Talvez me vá arrepender
Do que a seguir vou dizer
Não sei se vais gostar de ouvir
Mas já que estás a insistir

Perguntas porque razão
Há dias em que os dias são
Como baloiços de bem e mal
De manhã tem-se o mundo aos pés
À noite cai-se do pedestal

Mas o mal
Tem costas largas
E o bem
Tem pés de barro

Até a flor mais bem-aventurada
Pra nascer mais perfumada
Se aduba no inverno cão
Para rouper bela do chão

Porque o choro e o riso
Estão mais perto do que julgas
E há quem diga que é preciso
Comer o deserto às fatias
Para alcançar o paraíso

Porque o mal
Tem costas largas
E o bem
Tem pés de barro

Carlos Tê, Lustro

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quinta-feira, janeiro 27, 2005

Curioso Clã

Curioso Clã saltas do divã
Para que o dia dê quando pegas na pá
Curioso Clã ainda danças o tchan
Quanda a moda já é vã e o mote já não dá
Curioso Clã saltas como uma rã
Fé ante fé até ao dia D
Curioso Clã
Corpo cristão em mente pagã

Afastas da tua mão um revólver com limão

Curioso Clã quem te viu já não te vê
Vendeste a tua alma a Satã
Pra apareceres na tv queres fazer um cd
Que um dia te dia a fama do tchan
Curioso Clã o mundo é um ecran
Que não te dá altos vôos
Prende-te ao chão
E gira gira torna a girar
E tu só tens enjôos

Vendeste a tua alma a Satã
Furioso Clã Glorioso Clã Duvidoso Clã

Curioso Clã já mordeste a maçã
Era só um isco o primeiro risco
Curioso Clã saltas como uma rã
Fé ante fé para que um dia dê
Pra apareceres na T.V.
Para fazeres um cd
Para alcançares a glória do tchan
Curioso Clã despede Satã
É ele que ao fim da semana
Te põe mel no chá

Afastas da tua mão um revólver com limão
Vendeste a tua alma a Satã
Duvidoso Clã Glorioso Clã Furioso Clã
Duvidoso Clã Curioso Clã Furioso Clã

Hélder Gonçalves, Lustro

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O País do Plano Tecnológico???

Acabei de ver na televisão um socialista qualquer dizer esta pérola:

- A Finlandia é o país da Nokia, a Espanha é o país da Zara, a Coreia é o país da Hyundai e Portugal vai ser o país do Plano Tecnológico!

Assim é que se fala!

Já estou a ver o mundo todo cheio de concessionários e franchisings!

Vamos vender Planos Tecnológicos pelo mundo todo e fazer uma pipa de massa.

Tal como dizia o Bill Gates, o objectivo é um Plano Tecnológico em cada casa!

O palhaço da MacDonald's vai ser substituído por um Mariano Gago em tamanho real à porta de cada loja!

Em breve ninguém vai conseguir viver sem ter um!

O mundo vai parar em filas de espera para a abertura anual dos saldos do Plano Tecnológico de quarta geração modelo Sócrates com nova motorização, co-incineração incluída e 5oo euros em chamadas para o Largo do Rato!

Será que a Humanidade está pronta para esta revolução?

Será que os Estados Unidos vão deixar passar esta afronta sem nos invadirem?

Ora bolas!!!

Não há ninguém que ponha esta gente em isolamento total num "Hotel Psiquiátrico"???

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terça-feira, janeiro 25, 2005

Reciclagem

A Dra. Luísa Mesquita disse na televisão que os ovos não se fazem sem omeletas!

Estaremos no limiar de uma nova técnica de reciclagem?

E como funciona?

Por regurgitação?

No futuro, prevejo que os alunos das nossas escolas saberão sem dificuldade resolver um novo problema:

- O que vem primeiro? a omeleta ou o ovo?

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domingo, janeiro 23, 2005

O Azeite!

Santana Lopes diz que, apesar do ruído, o azeite vem "ao de cima"!

Para além de salientar esta forma de falar tão "à povo" adoptada por Lopes, duas pequenas considerações me parecem pertinentes:

- O ruído impede o azeite de vir "ao de cima"!
Não sabiamos!

- O azeite vem sempre "ao de cima"!
A julgar pela cambada de azeiteiros que temos a disputar as eleições... Já sabiamos!

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sexta-feira, janeiro 21, 2005

As Palavras Interditas

Mais uma pequena homenagem a esse extraordinário poeta que é Eugénio de Andrade, que no passado dia 19 de Janeiro completou 82 anos.


As Palavras Interditas

Os navios existem e existe o teu rosto
encostado ao rosto dos navios.
Sem nenhum destino flutuam nas cidades,
partem no vento, regressam nos rios.

Na areia branca, onde o tempo começa,
uma criança passa de costas para o mar.
Anoitece. Não há dúvida, anoitece.
É preciso partir, é preciso ficar.

Os hospitais cobrem-se de cinza.
Ondas de sombra quebram nas esquinas.
Amo-te... E abrem-se janelas
mostrando a brancura das cortinas.

As palavras que te envio são interditas
até, meu amor, pelo halo das searas;
se alguma regressasse, nem já reconhecia
o teu nome nas minhas curvas claras.

Dói-me esta água, este ar que se respira,
dói-me esta solidão de pedra escura,
e estas mãos noturnas onde aperto
os meus dias quebrados na cintura.

E a noite cresce apaixonadamente.
Nas suas margens vivas, desenhadas,
cada homem tem apenas para dar
um horizonte de cidades bombardeadas.



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Igreja SócraSanta


Não, não é um erro ortográfico.

Passo a explicar. Quem não conhece as inúmeras gaffes e contradições do governo de Santana Lopes? Quem não conhece as recentes reviravoltas de Sócrates.

Como se chamará a esta nova política de se contradizer à tarde o que se disse de manhã? À falta de um outro nome, resolvi chamá-la de Sócrasanta. E porquê? Porque a Igreja Católica Espanhola, ao invés de ser Sacrosanta, deixando-se levar talvez pela fonética da palavra, resolveu adoptar a política à Portuguesa.

Então não é que, e muito bem, um representante da igreja católica espanhola vem defender o uso do preservativo para evitar a transmissão do vírus da Sida, para vir afirmar horas mais tarde, depois de ter falado com o Vaticano, que uso do preservativo afinal é imoral???! Afinal... havia outra... Alguém lhe mostrou a luz!!!... Imoral é que se coloquem estes abortos no mundo.

Guilherme

"(...)Ovelha Negra
Carneiro preto
Eu vou direito ao deserto(...)"


Zé Pedro, Xutos & Pontapés


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quarta-feira, janeiro 19, 2005

Entre os teus Lábios

Entre os teus lábios
é que a loucura acode,
desce à garganta,
invade a água.

No teu peito
é que o pólen do fogo
se junta à nascente,
alastra na sombra.

Nos teus flancos
é que a fonte começa
a ser rio de abelhas,
rumor de tigre.

Da cintura aos joelhos
é que a areia queima,
o sol é secreto,
cego o silêncio.

Deita-te comigo.
Ilumina meus vidros.
Entre lábios e lábios
toda a música é minha.



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É Urgente o Amor


É urgente o amor.
É urgente um barco no mar.

É urgente destruir certas palavras,
ódio, solidão e crueldade,
alguns lamentos,
muitas espadas.

É urgente inventar alegria,
multiplicar os beijos, as searas,
é urgente descobrir rosas e rios
e manhãs claras.

Cai o silêncio nos ombros e a luz
impura, até doer.
É urgente o amor, é urgente
permanecer.



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domingo, janeiro 16, 2005

Apelo para a Humanidade

Tivemos a tristeza de ver recentemente o Tsunami, causando uma grande destruição e vitimando um número inconcebível de pessoas em sete países da Ásia. Sabemos que esse tipo de facto é um acontecimento natural, porém havemos de analisar e acrescentar que a intensidade desse tsunami mostra-nos claramente que o desequilíbrio ambiental é, incontestavelmente, potencializador de forças naturais deste porte. Cabe a nós, definitivamente, uma reflexão séria sobre o assunto e buscarmos maneiras mais correctas de lidarmos com o espaço que vivemos, para que não sejamos nós os responsáveis por catástrofes desta natureza.

Nós blogueiros, propomos desde já, unirmo-nos em um alerta para a humanidade, e implantarmos cada um de nós, a nosso modo e em nosso ambiente, medidas práticas de mudanças!

É tempo de se falar abertamente. É tempo de se abordarem as questões em profundidade e não de forma restritiva. É tempo enfim, de se falar a sério sobre a questão ambiental e ecológica. Sobre a humanidade!

E com razão. É que cada vez mais se toma consciência de que o combate pela preservação, não tem fronteiras, não é regionalizável e de que a resposta ou é global ou não será resposta.

As chuvas ácidas, o efeito de estufa, a poluição dos rios e dos mares, a destruição das florestas, não têm azimute nem pátria, nem região. Ou se combatem a nível global ou ninguém se exime dos seus efeitos.

As pessoas ainda respiram. Mas por quanto tempo?

Os desertos ainda deixam que reverdejem alguns espaços estuantes de vida. Mas vão avançando sempre.

Ainda há manchas florestais não decepadas nem ardidas. Mas é cada vez mais grave o deficit florestal.

Ainda há saldos de crude por extrair, de urânio e cobre por desenterrar, de carvão e ferro para alimentar as grandes metalurgias do mundo. Mas à custa de sucessivas reduções de reservas naturais não renováveis.

Na sua singeleza, o caso é este:

Até agora temos assistido a um modelo de desenvolvimento que resolve as suas crises crescendo cada vez mais. Só que quanto mais se consome, mais apelo se faz à delapidação de recursos naturais finitos e não renováveis, o que vale por dizer que não é essa uma solução durável, mas ela mesma finita em si e no tempo que dura. Por outras palavras: é ela mesmo uma solução a prazo.

Significa isto que, ou arrepiamos caminho, ou a vida sobre a terra está condenada a durar apenas o que durar o consumo dos recursos naturais de que depende.

Não nos iludamos. A ciência não contém todas as respostas. Antes é portadora das mais dramáticas apreensões.

O que há de novo e preocupante nos dias de hoje, é um modelo de desenvolvimento meramente crescimentista – pior do que isso, cegamente crescimentista – que gasta o capital finito de preciosos recursos naturais não renováveis, que de relativamente escassos tendem a sê-lo absolutamente. E se podemos continuar a viver sem urânio, sem ferro, sem carvão e sem petróleo, não subsistiremos sem ar e sem água, para não ir além dos exemplos mais frisantes.

Daí a necessidade absoluta de uma resposta global. Tão só esta necessidade de globalização das respostas, dá-nos a real dimensão do problema e a medida das dificuldades das soluções. Lêem-se o Tratado de Roma, O Acto Único Europeu e mais recentemente as conclusões da Conferência de Quioto, do Rio de Janeiro e Joanesburgo, onde ficou bem patente a relutância dos países mais industrializados, particularmente dos Estados Unidos, em aceitar a redução do nível de emissões. Regista-se a falta de empenhamento ecológico e ambiental das comunidades internacionais e dos respectivos governos, que persistem nas teses neoliberais onde uma economia cega desumanizada e sem rosto acabará por nos conduzir para um beco sem saída.

Por outro lado todos temos sido incapazes de uma visão mais ampla e intemporal. Se houver ar puro até ao fim dos nossos dias, quem vier depois que se cuide!... e continuamos alegremente a esbanjar a água do cantil.

Será que o empresário que projectou a fábrica está psicológica ou culturalmente preparado para aceitar sem sofismas nem reservas as conclusões de uma avaliação séria do respectivo impacto ambiental?
Mesmo sem sacrificar os padrões de crescimento perverso a que temos ligados os nossos hábitos, há medidas a tomar que não se tomam, como por exemplo:

  • Levar até ao limite do seu relativo potencial o uso da energia solar e da energia eólica.
  • Levar até ao limite a preferência da energia hidráulica sobre a energia térmica.
  • Regressar à preferência dos adubos orgânicos sobre os adubos químicos.
  • Corrigir o excessivo uso dos pesticidas.
  • Travar enquanto é tempo a fúria do descartável, da embalagem de plástico, dos artigos de intencional duração.
  • Regressar ao domínio do transporte ferroviário sobre o rodoviário.
  • Repensar a dimensão irracional do transporte urbano em geral e do automóvel em particular.
  • Repensar, aliás, a loucura em que se está tornando o próprio fenómeno do urbanismo.
  • Reformular a concepção das cidades e das orlas costeiras


  • Dito de outro modo: a moda política tende a ser, um constante apelo às terapêuticas de crescimento pelo crescimento. È tarde demais para desconhecermos que, quando a produção cresce, as reservas naturais diminuem.

    Há porém um fenómeno que nem sempre se associa ás preocupações da humanidade. Refiro-me à explosão demográfica.

    Com mais ou menos rigor matemático, é sabido que a população cresce em progressão geométrica e os alimentos em progressão aritmética. Assim, em menos de meio século, a população do globo cresceu duas vezes e meia !...
    Nos últimos dez anos, crescemos mil milhões!... Sem grande esforço mental, compreendemos aonde nos levará esta situação.

    Se é de um homem mais sensato e responsável que se precisa, um homem que olhe amorosamente para este belo planeta que recebeu em excelentes condições de conservação e está metodicamente destruindo; de um homem que jure a si mesmo em cadeia com os seus semelhantes, fazer o que for preciso para que o ar permaneça respirável, que a água seja instrumento de vida e dela portadora, e os equilíbrios naturais retomem o ciclo da auto sustentação, empenhemo-nos desde já nessa tarefa, com persistência e determinação.

    Se é a continuação da vida sobre a terra que está em causa, e em segunda linha a qualidade de vida, para quê perder mais tempo?...

    Por isso apelamos a todos quantos se queiram associar a este movimento pela preservação Natureza, pela Paz e pelo desenvolvimento harmonioso da Humanidade, para subscreverem este Apelo.

    Ao fazê-lo estamos a afirmar a nossa cidadania, enquanto pessoas livres, que olham com preocupação o futuro da Humanidade, o futuro dos nossos filhos!





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    sábado, janeiro 15, 2005

    Harry? Prefiro o Potter!

    O "príncipe" Harry é, e não é, uma pessoa qualquer. Mesmo sem ter nenhuma qualidade que o justifique é o terceiro na hierarquia para suceder a Isabel II, logo atrás do pai e do irmão.

    O "príncipe" Harry devia ter uma educação exemplar. Nomeadamente no que diz respeito à História do seu país e da Humanidade, mas não, prefere ser identificado apenas como um pequeno hooligan, entenda-se que este "apenas" é muito relativo, ou provavelmente bebeu os seus valores ideológicos directamente do seu tio bisavô Eduardo VIII, que nutria fortes simpatias pelos nazis e, como já nos tem habituado, a monarquia inglesa trata de lavar com uma mão o que suja com a outra. É esta a monarquia que alguns dizem defender e que lhe reconhecem tanto valor.


    Deixo-lhe aqui estas duas imagens, para o caso de ainda restar um pingo de decência ao rapaz, para que ele se aperceba da idiotice e estupidez que acabou de cometer. E que perceba que a sua atitude foi de um nível tão baixo, tão ordinário, que nem o nosso lord com sorte Castelo Branco seria capaz de tamanha enormidade.

    Haja respeito pelos milhões de vítimas inocentes!

    A tolerância e a decência têm limites e até Cristo, que foi tão mistificado pelos que fabricaram uma religião baseada na sua personalidade, não era aquele que dava a outra face, mas como homem e lutador, pegou num chicote e expulsou os vendilhões do templo.

    Tal como afirmava Malcolm X: serei tolerante e não violento com os que são tolerantes e não violentos, mas não posso ter a mesma atitude para com os que são intolerantes e violentos e fazem da mistificação, do ódio e da violência a sua ideologia.

    Harry por Harry, então prefiro o Potter.

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    Gueixa

    Deixa que o amor te apanhe
    Na teia fatal da sua mão
    Deixa que o amor se entranhe
    Na terra seca do coração

    Deixa que o amor te banhe
    No seu sabonete de água e sal
    Deixa que o amor te arranhe
    Com as suas unhas de animal

    Sombras brancas como sedas tristes
    Estão no teu olhar
    Nuvens cinza num céu claro
    Que eu quero limpar

    Soubesse eu de amor
    Como sei cantar
    Dava-te o fulgor
    E o ritmo do mar

    Deixa que o amor te canse
    Até à suave exaustão
    Deixa que o amor te lance
    Às feras que inventam a paixão

    Soubesse eu de amor
    Como sei cantar
    Dava-te o fulgor
    E o ritmo do mar

    Sombras brancas como sedas tristes
    Estão no teu olhar
    Nuvens cinza num céu claro
    Que eu quero limpar

    Soubesse eu de amor
    Como sei cantar
    Dava-te o fulgor
    E o ritmo do mar

    Carlos Tê, Lustro

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    quarta-feira, janeiro 12, 2005

    O sorriso de Gioconda

    Para quem sorri Mona Lisa
    Para quem sorri Gioconda
    Alguém diga se souber
    Levante o dedo e responda
    É sorriso de mulher
    Que tem mundo na mão
    Sabe tudo sobre o desejo
    Mas faz de conta que não

    A quem dará Gioconda
    Seu sorriso de cortesã
    Será que mo dá só a mim
    Mal vem o sol da manhã

    Para quem sorri Gioconda
    Está tão longe tão perto
    Para quem sorri Gioconda
    Ninguém sabe ao certo
    Para quem sorri Gioconda
    Para quem sorri ao certo

    Talvez sorria para alguém
    Escondido ao fundo da sala
    Aquele amante furtivo
    Que planeia roubá-la
    Não sei se sorri para longe
    Para lá do mal e do bem
    Será que sorri por sorrir
    Um sorriso para ninguém

    Para quem sorri Gioconda
    Está tão longe tão perto
    Para quem sorri Gioconda
    Ninguém sabe ao certo

    Carlos Tê, Lustro

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    sábado, janeiro 08, 2005

    Lado Esquerdo

    O meu lado esquerdo
    É mais forte do que o outro
    É o lado da intuição
    É o lado onde mora o coração

    O meu lado esquerdo
    Oriente do meu instinto
    É o lado que me guia no escuro
    É o lado com que eu choro e com que eu sinto

    Meu o meu
    Foi o meu lado esquerdo
    Que me levou até ti
    Quando eu já pensava
    Que não existias para mim no mundo

    O meu lado esquerdo
    Não sabe o que é a razão
    É ele que me faz sonhar
    É ele que tanta vez diz não

    Meu é o meu foi o meu lado esquerdo
    Que me trouxe até ti
    Quando eu já pensava
    Que não existias para mim no mundo

    Carlos Tê, Lustro

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    domingo, janeiro 02, 2005

    Fahrenheit

    Não ouviste o fogo a arder
    Não sentiste o mercúrio à volta
    A subir em flecha a subir em ti
    A subir no sangue a acender o corpo
    Não ouviste o chamamento
    Os tambores tocando ao relento
    Palcos em chamas cabelos ao vento
    Incêndios de verão lavrando o chão

    Fahrenheit a noite estala
    Parte a escala
    Fahrenheit a noite estala
    Sente o fogo a arder
    Fahrenheit a noite estala
    Explode a escala
    Fahrenheit a noite estala
    Ouve o fogo a arder

    Não ouviste o fogo a arder
    Não sentiste o mercúrio à volta
    Guitarras em fúria lanternas no ar
    Vozes a cantar em tons de gasolina
    Não sentiste a queimadura
    Não sentiste a alma pura
    Não ouviste o eco chamando outro eco
    O fogo lambendo o teu coração seco

    Fahrenheit a noite estala
    Parte a escala
    Fahrenheit a noite estala
    Sente o fogo a arder
    Fahrenheit a noite estala
    Explode a escala
    Fahrenheit a noite estala
    Ouve o fogo a arder

    Carlos Tê, Lustro

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    Carta a J.C.

    Na sequência dos posts anteriores e de alguns dos comentários lá deixados, ocorreu-me fazer mais uma citação (hoje é o dia das citações) de um poema de José Mário Branco do seu CD Correspondências (1990) e intitulado Emigrantes da Quarta Dimensão (Carta a J.C.):


    Dá-me uma ajuda, ó médico das almas
    Para escolher em que combate combater

    Quem condeno eu à vida
    Quem condeno eu à morte
    Que me podes tu dizer

    Encostado à árvore do tempo
    Folhas vivas, folhas mortas, estações

    Nada disto faz sentido
    E o sentido do sentido
    Não paga as refeições

    Este torpor só tem uma solução
    Sejamos deuses, é meter as mãos à alma

    E no fazendo acontecendo
    Deixar ir o coração
    Que é o que nos sobra

    Ao fazer-se, o mundo nasce de si próprio
    Ser avô é uma alegria atravessada
    Dá p'ra rir e p'ra chorar
    Não temos nada com isso
    Mas nada não é nada

    Disseste um dia que tudo vale a pena
    Tornar as almas mais pequenas é que não
    Vamos sobre duas patas
    Juntar as partes da antena
    Espalhadas pelo chão

    Fecha a porta que vem frio lá de fora
    Diz o coxo ao despernado, e eu aqui
    Fui à procura de mim
    Encontrei-me mesmo agora
    E ainda não fugi

    O tempo corre entre pívias e manhas
    E tudo fica cada vez mais como está
    Mas ao correr desta pena
    Não fico à espera que venhas
    Eu já sou o que virá


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