sábado, maio 28, 2005

Entreabir a Porta para o Interior - III

É bem verdade que dois anos de blogosfera começam a cansar, não nos conhecimentos e amizades que se fizeram, algumas das quais, espero, não se perderão, mas porque isto se torna uma dependência e a melhor maneira de combater as dependências é fazer um corte radical ou, pelo menos, uma pausa mais ou menos prolongada.

Mas promessas são promessas e se prometi entreabrir as portas, então que o faça até ao fim. O primeiro artigo foi dedicado aos meus avós e família em geral, o segundo foi mais orientado para os meus pais, este será mais para os meus irmãos e terminarei esta saga narcísica com um quarto artigo onde falarei mais de mim próprio.

Mesmo correndo o risco de me repetir, não tive paciência para ler os artigos anteriores, as coisas vão saindo e o que está feito, está feito e ponto final.

Avancemos então que se faz tarde.

Os meus pais casaram civilmente no início dos anos 30, o que abalou alguns sectores mais consevadores da família, curiosamente não os meus avós. Deste casamento nasceram seis filhos. As diferenças de idades dos meus irmãos em relação a mim são de 22, 21, 20, 16 e 10 anos. Nenhum de nós foi baptizado por qualquer religião, tendo os meus pais deixado esse assunto para que cada um de nós decidisse quando chegasse a hora de tomar decisões. Nunca nos esconderam nada deram-nos sempre a liberdade de opção quer religiosa, quer política, informaram-nos e formaram-nos, mas as opções foram sempre tomadas por cada um de nós.


Os meus pais com um dos meus irmãos
na baixa do Porto em meados dos anos 30

A mais velha, engenheira química e professora universitária reformada é, ainda hoje, militante do Partido Comunista Português e ateia. Casou com um médico (infelizmente já falecido), também ele militante comunista, do qual se divorciou mais tarde, sendo hoje casada com um conhecido livreiro portuense, de uma livraria com história que ultrapassa largamente as fronteiras da cidade. Excelente aluna (por causa disto, mais tarde todos fomos confrontados com este facto), o meu pai acreditava (ou queria acreditar) que seria uma nova Madame Curie. Generosa e empenhada na sua causa, é hoje uma pessoa que ainda vive intensamente o PCP e a sua ortodoxia. Tem uma causa e luta por ela, eu não sou ninguém para por em causa as suas opções, discordo de muita coisa, mas respeito, pois as pessoas sinceras, coerentes e honestas devem ser respeitadas independentemente de concordarmos, ou não, com as suas ideias.

O segundo, já falecido, era um homem de porte magnífico, um líder nato, era um pequeno/médio empresário no Porto. Quando jovem andou empenhado nas lutas políticas dos anos 50 inícios de 60, particularmente na campanha do General Sem Medo. Aos vinte e poucos anos teve necessidade de se virar para a religião, teve uma crise de identidade e acabou por optar pelas Testemunhas de Jeová. Empenhado e líder chegou aos cargos mais altos desta seita religiosa (tenho alguma relutância em chamar-lhe religião) e por ela morreu. Acreditando naquilo que defendia, recusou-se a receber sangue alheio na sequência de uma operação mais ou menos banal, mas com complicações pós-operatórias das quais resultaram grandes hemorragias que só podiam ser debeladas com o recurso a transfusões de sangue, que recusou e obrigou os médicos a assinar um documento sobre compromisso de honra que não o fariam mesmo que ficasse inconsciente. Morreu de acordo com as suas próprias convicções e, por mais que discorde das suas, não posso deixar de sentir orgulho por ele, mesmo que considere que o sacrifício da vida por aqueles motivos não me mereçam qualquer consideração. Como todos sabem sou ateu, mas esta "religião" é uma religião assassina, pois não há nada nas escrituras que imponha tamanho sacrifício a não ser através de um fundamentalismo hipócrita, estreito, ignorante, estúpido, tacanho, absurdo e eu sei lá que mais. Nem tenho adjectivos capazes de revelar a minha revolta. Fiel aos princípios transmitidos pelos meus pais nunca tentou convencer nenhum dos irmãos da sua verdade, nem mesmo a mim que sendo muito mais novo poderia ser facilmente influenciado.

Segue-se mais um rapaz. Também já está reformado, foi chefe da contabilidade de uma grande empresa do sector da construção civil aqui no Porto. Senhor de uma bagagem cultural apreciável, foi o menos empenhado politicamente. Possuidor de um humor sarcástico notável podia ter-se destinguido nesta área, mas o seu pragmatismo levou-o para um escritório de contabilidade. Avesso a agitações sempre pautou a sua vida pelo padrão da segurança. É agnóstico e foi aquele que mais marcado terá ficado com a morte do nosso pai, seguindo-lhe escrupulosamente os princípios, mas com menor rigidez. Vive uma vida pacata e fora de grandes agitações, é talvez o mais equilibrado de todos os irmãos, no entanto nota-se-lhe um brilhozinho nos olhos como se na sua cabeça fervilhasse aquilo que deixou de fazer em troca da segurança e da estabilidade da família. É uma pessoa de princípios, que escolheu o seu caminho de acordo com a sua própria personalidade, não seguiu ao sabor das ondas, traçou um objectivo de vida e lá o foi percorrendo, não se desviando nem um milímetro da segurança e estabilidade.

O quarto filho foi mais um rapaz. Sonhador desde infância é o irmão com quem tenho uma relação mais forte e mais próxima, sem menosprezo para nenhum dos outros, Não sou mais amigo de um do que de outro, mas este foi aquele que escolhi, desde ganapo, para ser o meu ídolo com pés de barro. Aventureiro por natureza pautou a sua vida, pauta, pelos impulsos. Senhor de vasta cultura tem um gosto especial por viagens é o mais francófono dos irmãos, pois tem uma especial apetência pela cultura francesa, no entanto fala várias línguas. Casou e esteve perto do tecto do mundo que qualquer família burguesa deesejaria, no entanto o seu espírito irrequieto levou-o ao divórcio, tendo abandonado uma vida de grande prosperidade para viver outra de incerteza e de aventura. Viajou, esteve praticamente em todos os continentes, embora a Europa seja a sua paixão, viveu algum tempo em Barcelona, ainda antes de casar e, mais tarde, depois do divórcio, viveu alguns anos em Bruxelas. Grande conversador e contador de histórias (neste aspecto talvez seja o que se aproxima mais do nosso pai). Militante socilista e maçom, esteve preso pela PIDE, foi um militante anti-salazarista empenhado e participou activamente na campanha do General Humberto Delgado. Do ponto de vista religioso hesita entre a ateísmo e o agnosticismo, mas estou convencido que é mais agnóstico do que ateu, pois é um adepto do grande arquitecto. Foi de facto o meu ídolo e ainda hoje me recuso a olhar para os seus pés de barro.

Finalmente mais uma rapariga. Viva e irrequieta, lembro-me dela de saia rodada a dançar o twist. A sua vida caracterizou-se por grande instabilidade. Fraca aluna, queria ser cantora de ópera, foi estudar para o Conservatório de Música do Porto, por volta dos 14 ou 15 anos quis baptizar-se catolicamente, os meus pais, tolerantes, não criaram qualquer objecção. Casa aos 17 anos pondo fim a uma possível carreira no mundo da ópera (para o qual parecia que tinha jeito), segue para o Zaire (Congo) com o marido, passados anos regressa a Portugal, divorcia-se e volta a casar, segue para o Zimbabwé. Divorcia-se novamente, volta a casar e passa a viver na África do Sul, onde ainda hoje permanece. É de todos os irmãos a que tem convicções menos sólidas, quer do ponto de vista político quer religioso. O facto de ter ido viver para África, não teria eu mais de 10 anos, e de por aí ter ficado durante longos períodos impediu que aquela que era a mais próxima de mim (apesar da diferença de 10 anos pareciamos ambos dois miúdos), foi cortando os elos muito fortes que existiam, no entanto, tal como os outros, ocupa um lugar especial em mim, sobretudo a sua "loucura" que algumas vezes, ao longo da minha vida, me contagiou.

Finalmente venho eu para moer o juízo a todos, mas isso fica para o próximo e derradeiro episódio a escrever brevemente.


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terça-feira, maio 17, 2005

PELO DIREITO A UMA INFÂNCIA

No Sul do mundo, cada vez mais crianças são obrigadas a trabalhar para ajudar as suas famílias a sobreviver. De acordo com a Organização Mundial do Trabalho (2002) cerca de 250 milhões de crianças trabalham e 180 milhões desempenham trabalhos extremamente perigosos, em condições que prejudicam a sua saúde, educação, desenvolvimento pessoal e social. Mas há números ainda mais assustadores, estima-se que cerca de 1 milhão de crianças são vendidas e traficadas nos seus países ou no estrangeiro. Muitas são forçadas a viver em condições próximas da escravatura.

Um dos principais factores da exploração do trabalho infantil é a pobreza. O principal objectivo do Comércio Justo consiste em oferecer uma oportunidade de saída do ciclo de pobreza através de uma negociação justa na comercialização de produtos, produzidos especialmente por mulheres e populações indígenas.

O Comércio Justo oferece aos produtores o pré-financiamento da produção, relações comerciais de longa-duração e desenvolvimento organizacional, ao mesmo tempo que protege as crianças da exploração no processo de produção.

O aumento da venda de produtos do Comércio Justo na Europa pode fazer uma enorme diferença na vida dos produtores que trabalham com as organizações do Comércio Justo. Isto só é possível se os consumidores europeus estiverem informados sobre as condições de trabalho no comércio convencional e sobre o poder que eles próprios têm para melhorar a vida dos produtores, ao optarem pelo Comércio Justo.

Na Europa, as Lojas do Mundo desempenham um papel preponderante no que respeita à informação e educação dos consumidores.

O maior desafio e potencial das Lojas do Mundo da Europa, com o seu universo de cerca de 100 000 voluntários, consiste precisamente em informar os consumidores sobre a forma como o trabalho infantil está ligado às suas vidas e como o Comércio Justo pode fazer a diferença.

A NEWS! (rede europeia de lojas do mundo) inicia uma nova campanha que visa facilitar o trabalho informativo e educativo das Lojas do Mundo. O objectivo da campanha consiste em sensibilizar crianças entre os 8 e os 10 anos de idade sobre a ligação existente entre produtos que elas consomem e as condições em que os mesmos são produzidos.

Os produtos à base de cacau e as bolas de futebol são familiares e atractivos para as crianças e serão usados como exemplos de produtos que mostram às crianças de que forma as suas vidas estão ligadas às vidas de outras crianças de países em desenvolvimento, que trabalham em condições de exploração, para que nós possamos usufruir destes produtos.

O Dia Mundial do Comércio Justo de 2005 assinalará o início desta campanha das Lojas do Mundo europeias, sob o título “Pelo direito a uma infância – o Comércio justo contra a exploração do trabalho infantil” que decorrerá até 2007.


POSIÇÃO DA NEWS! SOBRE A EXPLORAÇÃO DO TRABALHO INFANTIL

A posição da NEWS! sobre trabalho infantil baseia-se no Artigo 32 da Convenção das Nações Unidas dos Direitos da Criança, que foi aprovada pelas NU em 1989 e proporciona um enquadramento legal para protecção e promoção dos direitos da criança.
Esta Convenção reconhece o “direito da criança ser protegida contra a exploração económica e contra a execução de qualquer tipo de trabalho que lhe possa ser prejudicial ou interferir com a sua educação, saúde ou desenvolvimento físico, mental, espiritual, moral ou social.”, o que é partilhado pela Convenção nº 138 da Organização Mundial do Trabalho, um compromisso a longo-prazo para erradicar a exploração do trabalho infantil.

A NEWS! reconhece que é necessário distinguir entre trabalho infantil e exploração do trabalho infantil. Trabalhos ligeiros que não sejam prejudiciais à criança podem mesmo ser positivos e úteis para o seu desenvolvimento pessoal e social.

A pobreza é uma das principais causas da exploração do trabalho infantil nos países em desenvolvimento. É uma responsabilidade do estado desencorajar a exploração do trabalho infantil e tentar solucionar o problema.

O Comércio Justo pode contribuir para o respeito pelos direitos da criança – através do aumento de rendimentos gerado por práticas mais justas de comércio, podem realizar-se projectos de desenvolvimento comunitários com o objectivo de melhorar a educação a nutrição e a saúde.

O Comércio justo apresenta uma forma prática de redução da pobreza ao melhorar a vida e o bem-estar e ao assegurar os direitos dos produtores e trabalhadores menos favorecidos, sobretudo no Sul do mundo, através de:

- melhores condições de comércio;
- maior acessibilidade ao mercado;
- fortalecimento das organizações de produtores;
- pagamento de um preço melhor e;
- continuidade da relação comercial.

De acordo com os critérios do IFAT (International Fair Trade Association’s) para as organizações de Comércio Justo, estas são obrigadas a respeitar a Convenção das Nações Unidas para os Direitos da Criança, assim como a legislação e as normas sociais no contexto local. Se as crianças participam no processo de produção de artigos do Comércio Justo, nenhum destes direitos pode ser violado – a saúde e o desenvolvimento da criança não serão negativamente afectados.

Como o trabalho das crianças funciona sobretudo como um suplemento ao rendimento familiar, as Lojas do mundo europeias não apoiam o apelo à abolição imediata de todas as formas de trabalho infantil pois isso obrigaria ao trabalho infantil clandestino, onde não existe qualquer possibilidade de protecção das crianças contra a exploração económica.

O envolvimento das crianças no processo de produção deve ser desencorajado, mas quando não puder ser evitado, as organizações devem supervisioná-lo para se assegurarem de que o número de horas de trabalho é limitado, que as crianças não trabalham em condições prejudiciais e que durante as horas de trabalho têm acesso ao seguinte:

- educação (formal ou informal)
- tempo para brincar
- refeições nutritivas
- supervisão

Estas situações devem ser temporárias. O objectivo é sempre abolir a o trabalho infantil.

As organizações de Comércio Justo dispõem de informação sobre o envolvimento das crianças na produção e supervisionam o tempo que estas crianças dedicam à educação, ao lazer e ao trabalho. Além do mais, asseguram que as crianças são sempre tratadas de acordo com a carta das Nações Unidas sobre as crianças e com a legislação do seu país.

A NEWS! apoia todas as iniciativas que visam a eliminação das “piores formas de trabalho infantil”, tal como definidas pela Organização Mundial do trabalho, na sua convenção nº 182 (1999): Escravatura infantil, tráfico de crianças, o uso de crianças como soldados, a prostituição infantil ou a pornografia, o uso de crianças em crimes, incluindo tráfico de droga e trabalho que prejudica a saúde, a segurança e a moral da criança. No entanto, a NEWS! não acha apropriado incluir tais crimes na designação de “trabalho infantil”. Deveriam ser considerados crimes contra as crianças.

Os artigos 12 e 13 da Convenção das Nações Unidas sobre os Direitos da Criança salientam o direito de a criança ter uma voz activa e participar nos processos de decisão sobre questões que as afectam. Por este motivo acreditamos que é importante envolver crianças em todas as fases e ouvir o que elas têm a dizer. Assim, apoiamos os apelos do Movimento Mundial de Crianças e Jovens Trabalhadores (NATS) pelo fim da exploração do seu trabalho e pelo direito a condições de trabalho dignas.


DIA MUNDIAL DO COMÉRCIO JUSTO – Pequena mudança GRANDE diferença

No Dia Mundial do Comércio Justo os funcionários e voluntários das Lojas do Mundo saem habitualmente para a rua com uma mensagem política. Este ano, a actividade que propomos, segue literalmente o mote da Agenda 21 “Pensa a nível global, age a nível local”: propõe a mudança na tua vila ou cidade e informa a população sobre as condições de trabalho a que muitas crianças estão sujeitas para produzir uma grande parte dos produtos que consumimos diariamente.

As autoridades locais são a instância política mais próxima dos cidadãos. São instituições democraticamente controladas que devem ser geridas no interesse público. As autoridades locais são agora obrigadas por lei a desenvolver estratégias comunitárias, com vista ao alcance do desenvolvimento sustentável, através do programa conhecido como Agenda Local 21.

A Agenda 21 é um programa abrangente para o desenvolvimento sustentável, acordado por delegados da maioria dos países do mundo na Conferência das Nações Unidas para o Ambiente e o Desenvolvimento, que se realizou no Rio de Janeiro em 1992.

O Comércio Justo, com as suas vertentes social, económica e ambiental enquadra-se perfeitamente no processo da Agenda 21. Assim, o Dia Mundial do Comércio Justo de 2005 é direccionado para as autoridades locais e as autarquias. A procura de produtos do Comércio Justo tem de ser aumentada e, devido ao enorme mercado que representam, são as precisamente as autoridades locais que podem fazer uma GRANDE diferença.

Ao optarem pela aquisição de produtos do Comércio Justo elas podem entrar no processo, que não só beneficia os produtores como também lhes dá a oportunidade de, enquanto líderes da comunidade, assumirem um papel exemplar de consumo ético e responsável ao apoiar e comprar produtos do Comércio Justo. Em vários países europeus vários grupos locais já começaram a integrar o Comércio Justo na sua agenda local – ao conseguir que as suas autoridades locais aprovem resoluções de apoio ao Comércio Justo ou à eliminação da exploração do trabalho infantil das suas compras públicas.

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sábado, maio 14, 2005

Comércio Justo

Hoje, 14 de Maio, celebra-se o dia mundial do Comércio Justo.

As lojas do mundo europeias estão a promover uma campanha intitulada "Pelo direito a uma infância".




Mostrando-se assim, o Comércio Justo contra a exploração do trabalho infantil.

A campanha consiste na recolha de assinaturas dirigidas aos presidentes de câmaras propondo que investiguem se os produtos que compram são feitos por mão de obra infantil; que apoiem e promovam o Comércio Justo no seus concelhos; que recorram a produtos do Comércio Justo nas instituições públicas que tutelam.

Encontras aqui link para o abaixo assinado. Adapta-o ao teu concelho e contacta a Associação Reviravolta mailto:minfo@reviravolta.comercio-justo.org) para saberes qual a organização de Comércio Justo mais próximo da tua área de residência. Mais informações em http://reviravolta.comercio-justo.org

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quarta-feira, maio 11, 2005

O Fim do Reich Hitleriano

Infelizmente este meu período de ausência blogosférica levou-me a não me ter lembrado, ou melhor lembrar lembrei não tive foi disposição, de fazer qualquer referência ao fim da II Guerra Mundial no passado dia 9 de Maio (como muito bem diz o João Tunes no Água Lisa).

Ora é pelo João que eu quero começar e finalizar, depois de ter lido os artigos deles sobre o assunto fiquei ainda com menos vontade de escrever sobre o assunto, ainda por cima de uma forma requentada, embora o tema seja inesgotável a verdade é que me revejo, palavra por palavra, naquilo que ele afirma em relação à II Guerra Mundial e, por isso deixo aqui apenas a lembrança do dia em que o nazismo foi esmagado e humilhado e par dizer que estou presente.

Pela minha parte nunca esquecerei a brutalidade e horror do nazismo e também não deixarei de o afirmar no dia-a-dia, para que nunca se esqueça.

Nazismo nunca mais! Ditadura nunca mais!

Depois desta referência tardia aconselho todos os que por aqui passarem a lerem os excelentes artigos do João.

Aqui ficam os links:


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Entreabrir a Porta para o Interior - II

É bem verdade que há mais mundos para além da blogosfera e muitas vezes é preciso parar para de novo ganhar gosto por escrevinhar aqui.

Alguns dos meus condescendentes amigos e leitores têm enviado mails a perguntar quando acabo este entreabrir de portas, por isso depois de uma mais ou menos prolongada ausência, resolvi tentar pegar o fio da meada e continuar este meu exercício narcísico. Não garanto que o artigo fique concluido hoje, porque vou escrevendo directamente ao sabor das memórias e da corrente de pensamento, sem filtros, mas pelo menos vou adiantando qualquer coisa.

Então cá vai:

Os meus pais casaram no início da década de trinta. O seu casamento foi civil o que causou alguma polémica no seio da família mais conservadora, não aos meus avôs que não tentaram de forma alguma demover a sua vontade. Deste casamento resultaram seis filhos (4 rapazes e 2 raparigas) os quais os meus pais educaram laicamente sempre nos condicionar nas nossas opções futuras que, como veremos adiante, foram diversas. Os nossos pais sempre tiveram a honestidade de nos mostrar os caminhos, mas deixaram as opções, fossem elas quais fossem, para cada um de nós. Todos lhes estamos gratos pela educação que nos deram. Viveram uma vida feliz, tanto quanto se pode ser feliz neste mundo, rodeados de filhos, netos e bisnetos.

Pequeno-burgueses de origem viveram de acordo com os valores da classe embora de uma forma crítica e claramente contra a ditadura que se abateu durante longos, longuíssimos 48 anos. Economicamente não tiveram uma vida estabilizada, pois nem sempre a vida lhes sorriu, sobretudo após da morte do meu avô materno. O meu pai meteu-se em alguns negócios, mas como não tinha vocação para negociante, devido aos princípios de coerência e honestidade que defendia intransigentemente para si e os seus, e por isso todos se perderam, acabando como guarda-livros de uma grande empresa têxtil do Porto (onde se empregou a partir dos anos 50), cujo dono era um conhecido opositor ao regime salazarista e amigo do meu pai.

Em casa, contaram-me os meus irmãos, lia-se muito (disto ainda tenho memória viva, pois sempre me lembro de ver os meus pais lerem diariamente, mesmo já no tempo da televisão), recordo até conversas entre os meus pais e irmãos sobre livros e autores. Um dos mais discutidos era Aquilino Ribeiro, autor tão injustamente esquecido e até menorizado por muitos, acusado de um excesso de regionalismo por parte dos que hoje, intelectuais de pacotilha, só vivem virados para o seu próprio umbigo e são incapazes de ver para além dos ditames da moda, mas enfim, isso contas doutro rosário e talvez alguém na blogosfera pretenda pegar neste tema mais adiante.

A propósito de Aquilino Ribeiro vou aqui contar um episódio ciclo, que se repetia ano a ano, invariavelmente durante a realização da Feira do Livro, mas também em alguma visitas a livrarias da baixa do Porto. Em miúdo vinha frenquentemente com a minha mãe à baixa do Porto e era raro que, pela sua mão, não fizessemos uma ronda pela livrarias ou pelos escaparates da Feira do Livro quando esta se realizava. A minha mãe via o que tinha a ver comprava o que procurava e nunca saia sem perguntar, em jeito de provocação, se tinha o "Quando os Lobos Uivam" de Aquilino Ribeiro, livro que tinhamos em casa e que estava proibido pela ditadura. O gozo era nós verificarmos se quem nos atendia se limitava a dizer que o livro estava esgotado, sinal de que ou tinha medo (e como havia medo nessa altura) ou estava com o regime ou, mais corajosamente dizia que esse livro estava retirado do mercado por determinação superior, sinal de que existia alguma cumplicidade entre o vendedor e o comprador. A minha mãe saia sempre com um sorriso nos lábios, satisfeita por esta insignificante provocação, mas também por mostrar que até nas coisas pequenas era preciso demonstrar que se estava contra os que amordaçavam o país e não esconder cobardemente a cabeça na areia.

Continuando. Em casa faziam regularmente recitais (não no meu tempo). A minha mãe era uma excelente pianista e só o facto de ter casado com 17 anos e ter 3 filhos aos 20 anos a impediu de continuar esta sua vocação. O meu pai tocava razoavelmente violino, além da guitarra, episódio já descrito anteriormente. Os meus irmãos aprenderam todos a tocar piano, eu é que já não tive essa sorte, os tempos tinham mudado. faziam-se saraus e convivia-se, sobretudo aos fins-de-semana. Juntava-se grande parte da família em nossa casa para assistir a duetos de violino e piano tocados pelos meus pais em saraus pequeno-burgueses de música dita erudita ou clássica, ou então a magníficas interpretações ao piano (vertical não havia dinheiro para pianos de cauda) pela minha mãe de Beethoven ou Chopin (que, ao contrário do que pensa um célebre político da nossa praça, nunca compôs nada para violino).

Vou interromper por aqui, prometo que continuo em breve.


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segunda-feira, maio 02, 2005

1º de Maio no Porto

Celebrou-se ontem mais um 1º de Maio no Porto. Contudo, este não foi um 1º de Maio igual aos outros.

O local, o de sempre. As comemorações da CGTP foram uma vez mais na Avenida dos Aliados. A estas comemorações juntou-se o Bloco de Esquerda tal como tem feito desde a sua origem. A diferença, está no acolhimento que o BE teve. Diga-se de passagem que a reacção nunca foi boa e sempre tivemos vozes dissonantes impugnando a nossa presença, mas o que se passou ontem ultrapassou todos os limites.

Começou logo no início do desfile, quando um carro de som se atirou para cima de alguns manifestantes do BE que caem em cima do capô da carrinha. Os ânimos exaltaram-se e houve tentativas de agressão de parte a parte. Durante o desfile, o habitual, colavam-se à nossa faixa, atrasando-nos o passo e tentando gritar palavras de ordem mais alto que nós. Tal como nos anos anteriores o Bloco tentou trazer dinamismo e alegria ao 1º de Maio, gritando palavras de ordem próprias, dançando, etc... Os manifestantes dos sindicatos que nos precediam no cortejo fizeram queixa à organização de que estariamos a provocar. Sabem o que argumentaram? Que não estavamos a dizer o que estava no papel. Como se fossemos obrigados a alinhar junto da carneirada. Aí, a organização esteve bem: "Mas tu não estás de acordo com o que dizem?" "Pacote Laboral - Revogação Já" ou "Europa Sim, Tratado Não, Direitos Sociais na nova Constituição".

Entretanto um amigo meu era surpreendido por tirar fotografias. Perguntaram-lhe se estava autorizado e se as fotos eram para o Bloco. Autorizado?! A tirar fotos na via pública?!

Não percebo o que se passa com o PCP, ou se calhar até percebo... Mas é triste.

O Bloco veio trazer mais esquerda à esquerda. Existem neste momento mais 8 deputados do que há uns anos atrás e o PCP não tem perdido deputados. Há mais e melhor esquerda, então porquê estas atitudes? Por não queremos coligações no Porto? Como o poderiamos querer com um PCP que foi braço direito do Rui Rio nos últimos 4 anos? Como poderiamos ser com um PCP que é contra a limitação de mandatos? Com um PCP que se abstenham na votação da lei do aborto porque pensa que a sua verdade é a única verdade e que portanto não tem de haver referendo? Nunca devia ter havido, mas depois de 98 a única maneira credível de o fazer é com um novo referendo. Por muito que se discordo, é a oportunidade que sem tem agora para resolver o problema e o PCP pôs-se de fora. Têm medo de perder o referendo? Eu também, mas quero ganhá-lo!!!
Camaradas, vocês não são nossos adversários. Ponham isso na cabeça de uma vez por todas.


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lvo Ferreira

Conforme assunto divulgado na comunicação social, o Ivo Ferreira encontra-se preso no Dubai. Seria importante o teu apoio assinando a petição no site Petição para a Libertação do IVO não esquecendo que deves reconhecer a tua assinatura.

Agradeço que divulgues esta informação o mais rápido possível e ao maior número de pessoas.


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