Fardo tão Pesado
Quem estava habituado a ler O ACUSO! "2" publicado através do "Blogs no Sapo", pode agora continuar a fazê-lo no "Blogspot". Esta alteração está relacionada com alguns problemas de publicação que estavamos a ter ultimamente. A estrutura, os critérios e os objectivos mantêm-se exactamente os mesmos. O único inconveniente será o de terem de actualizar os vossos links, embora possam manter o antigo, porque ficará disponível para consulta. Pedimos também a todos os que tiveram a amabilidade de nos linkar nos respectivos blogs que façam, se o pretenderem, as respectivas actualizações.
Ultrapassado este pequeno preâmbulo vamos lá ao artigo de hoje.
Como os leitores habituais dos ACUSOS! sabem sou portuense e a pequena história que vos vou contar passa-se no Porto e com o Porto.
Há dias andava a passear pelos jardins do antigo Palácio de Cristal, hoje Pavilhão Rosa Mota, quando um grupo de turistas veio ter comigo e perguntou-me quando abriam as portas do palácio para o poderem visitar... Fiquei estupefacto e corei de vergonha.
De facto nas imediações do jardim existem numerosas placas que indicam a localização do "Palácio de Cristal". Porquê? Não deveriam antes dizer "Pavilhão Rosa Mota, ou "Jardins dos Antigo Palácio de Cristal"?
Envergonhado expliquei que as portas daquele "palácio", nos últimos anos só se abriam para a realização da Feira do Livro e provavelmente para algum, raro, muito raro, evento desportivo. Ficaram a olhar para mim com um ar incrédulo, por isso tive de explicar melhor a situação.
O verdadeiro Palácio de Cristal tinha sido construído à semelhança do Palácio de Cristal de Londres e inaugurado em 1865 para a realização da 1.ª Exposição Industrial Portuguesa. Nessa época e até meados dos anos 40 a cidade do Porto tinha sido o grande motor da industrialização portuguesa e os burgueses da cidade gostavam de mostrar o seu poder.
Ultrapassado este pequeno preâmbulo vamos lá ao artigo de hoje.
Como os leitores habituais dos ACUSOS! sabem sou portuense e a pequena história que vos vou contar passa-se no Porto e com o Porto.
Há dias andava a passear pelos jardins do antigo Palácio de Cristal, hoje Pavilhão Rosa Mota, quando um grupo de turistas veio ter comigo e perguntou-me quando abriam as portas do palácio para o poderem visitar... Fiquei estupefacto e corei de vergonha.
De facto nas imediações do jardim existem numerosas placas que indicam a localização do "Palácio de Cristal". Porquê? Não deveriam antes dizer "Pavilhão Rosa Mota, ou "Jardins dos Antigo Palácio de Cristal"?
Envergonhado expliquei que as portas daquele "palácio", nos últimos anos só se abriam para a realização da Feira do Livro e provavelmente para algum, raro, muito raro, evento desportivo. Ficaram a olhar para mim com um ar incrédulo, por isso tive de explicar melhor a situação.
O verdadeiro Palácio de Cristal tinha sido construído à semelhança do Palácio de Cristal de Londres e inaugurado em 1865 para a realização da 1.ª Exposição Industrial Portuguesa. Nessa época e até meados dos anos 40 a cidade do Porto tinha sido o grande motor da industrialização portuguesa e os burgueses da cidade gostavam de mostrar o seu poder.
Palácio de Cristal
No entanto, no início do anos 50, quando a cidade começava a acomodar-se ao novo-riquismo e a perder influência económica, cultural e política, um obscuro Presidente de Câmara nomeado pelo ditadura do Estado Novo (de cujo nome não lembro, nem quero lembrar, porque só devem ser recordados os que fazem alguma coisa, não os que destroem o património), resolveu mandar demolir a obra-de-arte para mandar construir um Pavilhão de Desportos para a realização do Campeonato do Mundo de Hóquei em Patins, desporto muito apreciado em Portugal, na Catalunha e na Galiza, nalgumas regiões de Itália, Argentina e Brasil, mas praticamente desconhecido do resto do mundo. Este recinto passou a designar-se mais tarde por Pavilhão Rosa Mota, em jeito de homenagem à grande atleta portuense.
Pavilhão Rosa Mota
Alguns cidadãos portuenses tentaram ainda lutar contra a maré, aconselhando a recuperação do belo Palácio de Cristal e/ou a construção do Pavilhão dos Desportos noutro local da cidade, mas tudo foi em vão. Os tempos eram difíceis, vivia-se em ditadura, e o dito Presidente não mostrava qualquer sensibilidade para a salvaguarda do património arquitectónico da cidade e a demolição foi em frente (conta-se que se fizeram alguns negócios chorudos com o cristal do palácio).
Hoje não há nenhum portuense com pelo menos 55 anos que não recorde o autêntico Palácio de Cristal, quanto aos mais novos não há nenhum que ainda não tenha ouvido esta história dos mais velhos, como eu ouvi dos meus pais, tios, irmãos e outros.
Os tempos de ditadura já lá vão, mas o autismo para os problemas relacionados com o património cultural da cidade, e a cultura em geral, continua a não ter o apoio que merece das entidades autárquicas, mas também o novo-riquismo portuense continua a fazer sentir o seu efeito e muitos dos grandes valores da cultura nacional abandonam a sua cidade por Lisboa ou pelo estrangeiro, porque desistem de lutar pela sua cidade e região e, muitas vezes, os que ficam se limitam em viver em pequenos círculos onde podem afirmar as suas pequenas, ou grandes, vaidades.
Claro que há excepções. As críticas são repartidas, mas o facto é que continuo a não me lembrar muito bem do nome do actual Presidente da Câmara. Porque será? E os portuenses merecem-no? Sim enquanto continuarem a votar nele!
Depois de ter escrito este artigo deixei de sentir vergonha por medidas para as quais não contribuí. Embora fosse impossível fazê-lo fisicamente, porque ainda não era nascido, não queria deixar de mostrar o meu repúdio por atitudes destas e, pelo menos, tentar despertar, nos portuenses em particular e nos portugueses em geral, a necessidade de afirmação da cidadania e da luta pela preservação do respectivo patrimómio artístico, cultural e cívico.
Hoje não há nenhum portuense com pelo menos 55 anos que não recorde o autêntico Palácio de Cristal, quanto aos mais novos não há nenhum que ainda não tenha ouvido esta história dos mais velhos, como eu ouvi dos meus pais, tios, irmãos e outros.
Os tempos de ditadura já lá vão, mas o autismo para os problemas relacionados com o património cultural da cidade, e a cultura em geral, continua a não ter o apoio que merece das entidades autárquicas, mas também o novo-riquismo portuense continua a fazer sentir o seu efeito e muitos dos grandes valores da cultura nacional abandonam a sua cidade por Lisboa ou pelo estrangeiro, porque desistem de lutar pela sua cidade e região e, muitas vezes, os que ficam se limitam em viver em pequenos círculos onde podem afirmar as suas pequenas, ou grandes, vaidades.
Claro que há excepções. As críticas são repartidas, mas o facto é que continuo a não me lembrar muito bem do nome do actual Presidente da Câmara. Porque será? E os portuenses merecem-no? Sim enquanto continuarem a votar nele!
Depois de ter escrito este artigo deixei de sentir vergonha por medidas para as quais não contribuí. Embora fosse impossível fazê-lo fisicamente, porque ainda não era nascido, não queria deixar de mostrar o meu repúdio por atitudes destas e, pelo menos, tentar despertar, nos portuenses em particular e nos portugueses em geral, a necessidade de afirmação da cidadania e da luta pela preservação do respectivo patrimómio artístico, cultural e cívico.
2 Comments:
Meu caro Martelo foi mesmo na mouche. Como dizes mentes instruídas incomodam muito mais.
Já agora qual é o teu blog, para que eu o possa linkar.
Abraço.
Gostei de ficar a saber um pouco sobre a história do Palácio de Cristal. Já estive algumas vezes no Porto mas só conheço o Palácio por fora. Fica bem (http://panquecas.blogs.sapo.pt)
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