Carta a J.C.
Na sequência dos posts anteriores e de alguns dos comentários lá deixados, ocorreu-me fazer mais uma citação (hoje é o dia das citações) de um poema de José Mário Branco do seu CD Correspondências (1990) e intitulado Emigrantes da Quarta Dimensão (Carta a J.C.):
Dá-me uma ajuda, ó médico das almas
Para escolher em que combate combater
Quem condeno eu à vida
Quem condeno eu à morte
Que me podes tu dizer
Encostado à árvore do tempo
Folhas vivas, folhas mortas, estações
Nada disto faz sentido
E o sentido do sentido
Não paga as refeições
Este torpor só tem uma solução
Sejamos deuses, é meter as mãos à alma
E no fazendo acontecendo
Deixar ir o coração
Que é o que nos sobra
Ao fazer-se, o mundo nasce de si próprio
Ser avô é uma alegria atravessada
Dá p'ra rir e p'ra chorar
Não temos nada com isso
Mas nada não é nada
Disseste um dia que tudo vale a pena
Tornar as almas mais pequenas é que não
Vamos sobre duas patas
Juntar as partes da antena
Espalhadas pelo chão
Fecha a porta que vem frio lá de fora
Diz o coxo ao despernado, e eu aqui
Fui à procura de mim
Encontrei-me mesmo agora
E ainda não fugi
O tempo corre entre pívias e manhas
E tudo fica cada vez mais como está
Mas ao correr desta pena
Não fico à espera que venhas
Eu já sou o que virá
Para escolher em que combate combater
Quem condeno eu à vida
Quem condeno eu à morte
Que me podes tu dizer
Encostado à árvore do tempo
Folhas vivas, folhas mortas, estações
Nada disto faz sentido
E o sentido do sentido
Não paga as refeições
Este torpor só tem uma solução
Sejamos deuses, é meter as mãos à alma
E no fazendo acontecendo
Deixar ir o coração
Que é o que nos sobra
Ao fazer-se, o mundo nasce de si próprio
Ser avô é uma alegria atravessada
Dá p'ra rir e p'ra chorar
Não temos nada com isso
Mas nada não é nada
Disseste um dia que tudo vale a pena
Tornar as almas mais pequenas é que não
Vamos sobre duas patas
Juntar as partes da antena
Espalhadas pelo chão
Fecha a porta que vem frio lá de fora
Diz o coxo ao despernado, e eu aqui
Fui à procura de mim
Encontrei-me mesmo agora
E ainda não fugi
O tempo corre entre pívias e manhas
E tudo fica cada vez mais como está
Mas ao correr desta pena
Não fico à espera que venhas
Eu já sou o que virá
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