Fardo tão Pesado
Ultrapassado este pequeno preâmbulo vamos lá ao artigo de hoje.
Como os leitores habituais dos ACUSOS! sabem sou portuense e a pequena história que vos vou contar passa-se no Porto e com o Porto.
Há dias andava a passear pelos jardins do antigo Palácio de Cristal, hoje Pavilhão Rosa Mota, quando um grupo de turistas veio ter comigo e perguntou-me quando abriam as portas do palácio para o poderem visitar... Fiquei estupefacto e corei de vergonha.
De facto nas imediações do jardim existem numerosas placas que indicam a localização do "Palácio de Cristal". Porquê? Não deveriam antes dizer "Pavilhão Rosa Mota, ou "Jardins dos Antigo Palácio de Cristal"?
Envergonhado expliquei que as portas daquele "palácio", nos últimos anos só se abriam para a realização da Feira do Livro e provavelmente para algum, raro, muito raro, evento desportivo. Ficaram a olhar para mim com um ar incrédulo, por isso tive de explicar melhor a situação.
O verdadeiro Palácio de Cristal tinha sido construído à semelhança do Palácio de Cristal de Londres e inaugurado em 1865 para a realização da 1.ª Exposição Industrial Portuguesa. Nessa época e até meados dos anos 40 a cidade do Porto tinha sido o grande motor da industrialização portuguesa e os burgueses da cidade gostavam de mostrar o seu poder.
Palácio de Cristal
Pavilhão Rosa Mota
Hoje não há nenhum portuense com pelo menos 55 anos que não recorde o autêntico Palácio de Cristal, quanto aos mais novos não há nenhum que ainda não tenha ouvido esta história dos mais velhos, como eu ouvi dos meus pais, tios, irmãos e outros.
Os tempos de ditadura já lá vão, mas o autismo para os problemas relacionados com o património cultural da cidade, e a cultura em geral, continua a não ter o apoio que merece das entidades autárquicas, mas também o novo-riquismo portuense continua a fazer sentir o seu efeito e muitos dos grandes valores da cultura nacional abandonam a sua cidade por Lisboa ou pelo estrangeiro, porque desistem de lutar pela sua cidade e região e, muitas vezes, os que ficam se limitam em viver em pequenos círculos onde podem afirmar as suas pequenas, ou grandes, vaidades.
Claro que há excepções. As críticas são repartidas, mas o facto é que continuo a não me lembrar muito bem do nome do actual Presidente da Câmara. Porque será? E os portuenses merecem-no? Sim enquanto continuarem a votar nele!
Depois de ter escrito este artigo deixei de sentir vergonha por medidas para as quais não contribuí. Embora fosse impossível fazê-lo fisicamente, porque ainda não era nascido, não queria deixar de mostrar o meu repúdio por atitudes destas e, pelo menos, tentar despertar, nos portuenses em particular e nos portugueses em geral, a necessidade de afirmação da cidadania e da luta pela preservação do respectivo patrimómio artístico, cultural e cívico.