domingo, outubro 31, 2004

A Grande Pirâmide

Estuda essa lição
sobe cada degrau
do conhecimento
para seres alguém
para teres o teu momento
vais ter de subir
custe o que custar
qualquer meio vale
para lá chegar

à grande pirâmide
à grande pirâmide

depois de subir
tu vais saber tudo
mas não vais ter tempo
de perceber nada
porque o que te informa
não é conhecimento
é tradição e norma
sem questionar a forma

à grande pirâmide
vais querer chegar
à grande pirâmide
depois de lá chegar

não penses duas vezes
não fiques para trás
tu és um gladiador
vais ter um carro preto
com dois mil de motor
e uma vivenda murada
depois de lá chegar

depois de lá chegar
podes ver o nada
depois de lá chegar
podes querer saltar

da grande pirâmide
podes querer saltar
da grande pirâmide
já te falta o ar

à grande pirâmide
à grande pirâmide

Carlos Tê, Kazoo

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sábado, outubro 30, 2004

Contas Claras



O ACUSO! "2" associa-se à iniciativa popular para acabar com o sigílio bancário. O objectivo é recolher 35.000 assinaturas para levar o projecto-lei a discussão na assembleia da república.

Faz o download da folha para recolha de assinaturas e tem a acesso a toda a informação em Contas Claras.


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Mora

Parto em viagem, busco nova imagem
solto, solto nos lugares que a vida escolhe
de passagem e momento, momento de passagem
em cidades de vento, sem documento
tento encontrar nessa névoa espessa, fria
uma rua numa cara, uma voz que perdi
à procura desse mundo não espero um segundo
até partir e ter um novo rumo
longe daqui...

Ora mora fora, ora fora mora
Ora mora longe, mora longe daqui

Mora longe, mora longe daqui

Liberto de velhas histórias
um sorriso na memória
das loucas viagens, sem fim, sem bagagem
agem como marcas no tempo
e moram no vento
procuro o rosto da sombra que assombra o meu olhar
na pressa de me encontrar
viagens por contar...

Mora, mora, mora...

Parto em nova viagem no mapa da coragem
que perdi onde vivi
está na hora de sair
não espero, não quero, nem mais um minuto tão perto
daqui
sim, cidades invisíveis, é lá a minha morada
e a janela está fechada
o melhor que há em mim sai p'ra fora, já agora
seja fora, longe, mora, seja longe daqui

Mora longe, mora longe daqui

Hélder Gonçalves, lusoQUALQUERcoisa


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quinta-feira, outubro 28, 2004

Mr. Inútil

Pala-pala-palavra não sai
Pala-pala-pala-palavra não sai

chegou ao parlamento
para falar mas não fala
não é da primeira fila
está perdido na bancada
ergue o dedo, baixa o dedo
deixa o ponto assinado
faz o quorum maioria
dorme na ordem do dia
Inútil, Mr. Inútil

Pala-pala-palavra não sai
Pala-pala-pala-palavra não sai

é do norte foi eleito pelo sul
por não ter lugar no centro
nasce assim um deputado
alta esfera do estado
gagueja na oratória
a disciplina partidária
não o deixa dizer néria
nem tem voto na matéria
Inútil, Mr. Inútil
(são demais para a nação)

Pala-pala-palavra não sai
Pala-pala-pala-palavra não sai

ninguém sabe quem ele é
nem quem ele representa
não aquenta nem refenta
entra e sai do hemiciclo
não deixa no ar uma ideia
tem reforma a peso de ouro
só por estar ali sentado
entrar mudo e vir calado
Inútil, Mr. Inútil
(são demais para a nação)

Pala-pala-palavra não sai
Pala-pala-pala-palavra não sai

Carlos Tê / Hélder Gonçalves,lusoQUALQUERcoisa


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segunda-feira, outubro 25, 2004

Ponto da Situação

Olá caros amigos e leitores!

Tenho andado muito absorvido com o trabalho e não tenho tido praticamente nenhum tempo para a blogosfera. Logo que o meu trabalho entre em velocidade de cruzeiro voltarei aqui com a regularidade habitual.


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sábado, outubro 23, 2004

Para Sempre

Muito cedo, perdi o medo, revirei as estrelas
que faziam parte da minha canção de criança
da recordação tornada herança
perdi as Fadas, os Anões e as Sereias
e entendi que no espelho há mais belos do que eu
Romeu e Julieta não são um exemplo são
e as arcas dos templos estão perdidas...

muito cedo, deixei suspensas as crenças
que comandavam parte da minha razão
e da razão falsa do cinema de criança
guardei perverso uma outra lição
entendi que mesmo sem a Bela Adormecida
posso ser Príncipe e transformar alguém Valente
que não tema relembrar
os contos perdidos, para sempre...

muito cedo, deixei-te ver a minha paixão
e todo o calor da minha mão em chamas
esqueci-me do Dragão na guarda do castelo
da Bruxa e seu veneno
e entendi que na magia dum final feliz
eu era ainda um Feiticeiro aprendiz
dos contos de uma vida, para sempre...
perdidos para sempre

Quem nos criou debaixo de fadas
quem revelou histórias raras
quem nos juntou nas almofadas
quem nos prendeu em noite claras

Hélder Gonçalves, lusoQUALQUERcoisa


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terça-feira, outubro 19, 2004

Azar

Não falo caro nem barato
falo a língua que tenho mais à mão
não tenho juventude partidária
nem lobby nem clube que seja uma nação
não sou parceiro social
nem jovem empresário neo-liberal
não sou skatista nem surfista
só gosto de dançar nesta pista
dançar até tombar

não fui lutador anti-fascista
não sou europeu nem bairrista
não sei canções que cantem o amanhã
só quero o que o D.J. me dá
não gosto de sardinha assada
não gosto de bola nem tourada
não gosto de fado nem revista
só não quero ter o azar
de ficar à porta desta pista

há quem saiba tudo
e eu não sei nada

não vou a coliseus, teatros, nem museus
não leio livros com cem páginas
nem vejo cinema sem acção
só vejo reclames na televisão
não me falem de cultura
nesse tom sério de educar
que eu ponho o som a toda a altura
e vou dançar na pista até tombar
se o porteiro me deixar entrar
...se não... azar!

só o que eu quero é ter não ter azar
só o que eu quero é ter não ter azar
dançar na pista até tombar
só o que eu quero é ter, só o que eu quero é ter
the new sensation

Carlos Tê / Hélder Gonçalves, lusoQUALQUERcoisa


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sábado, outubro 16, 2004

Dia Mundial da Alimentação

Hoje, dia 16 de Outubro, comemora-se o Dia Mundial da Alimentação.

Aqui está uma data que nos pode levar a fazer algumas. Comecemos pelos factos:

-> Em 2004 existem no Mundo 840 milhões de pessoas que passam fome.

E agora as questões:

-> Qual é a percentagem que os esfomeados ocupam na percentagem total da Humanidade?

-> Quantos mais milhões de habitantes estão no limiar da pobreza absoluta?

-> Qual a percentagem dos que cujos rendimentos estão muito acima da média mundial?

-> Em que local, ou locais, do mundo se concentra 80 a 90 % da riqueza mundial?

-> Em que local, ou locais, do mundo se concentra 80 a 90 % da pobreza mundial mundial?

-> Porque é que há terrorismo?

esta última resposta exige uma reflexão mais cuidada, porque muitas vezes os que promovem o terrorismo nem sempre são os mais desfavorecidos, mas sim os que aproveitando-se dessa realidade recrutam carne para canhão para os seus inconfessáveis, ou talvez não, propósitos.

Fica aqui o desafio, os leitores que tentem encontrar algumas respostas e lançar alguma luz sobre estas e outras dúvidas.


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quinta-feira, outubro 14, 2004

Ver uma mulher

Ver uma mulher a olhar por cima
do meu ombro
e não me ver
e ver outra coisa
de qualquer cor azul
é azul triste

Ver uma mulher a olhar para dentro
dos meus olhos
e não me ver
e ver outra coisa
de qualquer cor negra
é negro fado

Ver uma mulher a olhar para fora
da minha janela
e não me ver
e ver outra coisa
de qualquer cor branca
é branco nuvem

Ver uma mulher a olhar por todo
o meu corpo
e não me ver
e ver outra coisa
de qualquer cor
azul, negro, branco

Ver uma mulher é azul, negro, branco

Carlos Seabra / Hélder Gonçalves, lusoQUALQUERcoisa


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Ensurdecedor

Já estamos todos a ficar um pouco surdos com o silêncio do Professor Marcelo Rebelo de Sousa, se ele não fala em breve corremos o risco de já não ouvirmos nada do que nos tem para dizer.


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sexta-feira, outubro 08, 2004

Do Mesmo Clã

Nós falamos
os mesmos idiomas
mundos separados
por credos errados

Melhor será compor
outra criação
com deuses que toquem
e cantem

Nós somos do mesmo clã

Nós voltamos
à tribo global
ainda vestidos
pelo bem e pelo mal

Vamos pôr de novo
os clãs a dançar
à volta do totem
do sol

Nós somos do mesmo clã

Luís G. Claro / Hélder Gonçalves, lusoQUALQUERcoisa


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quinta-feira, outubro 07, 2004

Intemporal

Um familiar enviou-me uma frase atribuída a Eça de Queirós. O autor pode até não ser Eça de Queirós, mas pela intemporalidade, ironia e mordacidade vale bem a pena publicá-la.

Então cá vai:

Este Governo não cai porque não é um edifício, há-de sair com benzina porque é uma nódoa.

Não vos disse que valia a pena.


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terça-feira, outubro 05, 2004

5 de Outubro de 1910 (Implantação da República)



Como estás cinzenta, minha pobre e velha República. Os que te amaram, os que te veneraram e te transportaram aos ombros, esses, coitados envelheceram de facto ou até já morreram. Ficaram os outros, os que em cada vez maior número não sabem o que significas, nem o que representas, fruto de uma educação obscurantista de uma ditadura de 48 anos. Renasceste em 1974, mas logo surgiram os oportunistas que te colocaram de novo a um canto.

A tua face ainda é bela, o teu peito duro e sensual o teu corpo ainda desperta paixões, mas a verdade é que a maioria dos portugueses preferiu prostituir-se a abraçar-te com paixão.

É fácil a demagogia, difícil é viver com civismo, dignidade, liberdade, igualdade e respeito por si e pelos outros.

As paixões podem estar adormecidas, mas o teu corpo ainda mexe connosco, podemos estar adormedidos, mas não estamos mortos. Já vejo lá ao longe as tuas cores a reaparecer, espero que não seja mais uma ilusão, de qualquer forma não desistirei.

Não desistiremos!

Viva a República! Viva a Liberdade!


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