quinta-feira, setembro 30, 2004

João Tunes Ataca de Novo

Depois do "ex-tinto" Bota, João Tunes põe-nos agora a pão e Água.

Será que trocou os proletários tintóis pelas burguesas e mais sofisticadas bebidas brancas com água lisa?

Não creio, estou só a brincar com as palavras. João Tunes continua igual a si próprio, até mais enriquecido e enriquecedor, depois da sua viagem ao Egipto.

Pois que seja bem regressado, que já lhe sentiamos a falta.


|


terça-feira, setembro 28, 2004

Novas Babilónias

Neste tempo de sucessos
de quedas e ascensões
para o topo dos topos
para o gelo dos copos
para a vala das gerações
novos Bogarts em velhas gabardines
novas Madonnas em velhas Marilyns
crestam lendas nos magazines
ao ritmo das ilusões

novas Babilónias erguem-se do pó

e lê-se tudo em diagonal
e tudo chega a horas a Portugal
o comboio está agarrado
por fim o tempo está mesmo ao lado
já chegou o Desejado
e o sonho está normalizado
na suave proporção
de um para x elevado a um cifrão

novas Babilónias erguem-se do pó

tudo é novo e velho num vaivém de espuma
tudo se refunde no brilho da bruma
e vós combatentes de guerras idas
contentes, lambendo as mãos do rei Midas
Joanas, Joões de arcas perdidas
saltadores de fogueiras já ardidas
cinzas de cinzas de cinzas
benvindos ao império das coisas parecidas

novas Babilónias erguem-se do pó

Carlos Tê, lusoQUALQUERcoisa


|


segunda-feira, setembro 27, 2004

Concurso do Método

Bem vindos ao estúdio
onde vai ter lugar
mais uma sessão do concurso do método
mas antes do prelúdio
um breve interlúdio
para a publicidade

Caro telespectador não faça zap
porque nós vamos saber
o olho do grande irmão que em sua casa o vigia
toda a noite, todo o dia
e arrisca-se a perder
o direito de concorrer
ao grande concurso do método

e a pergunta é:
qual é o método que usa para consumir?
sonha por catálogo da t.v. shop
ou prefere atendimento personalizado
faça uma frase, uma prosa, um poema
e você, aí em casa, basta um telefonema
e ganha uma viagem ao país dos Iglôs,
a Guadalupe, Bermudas e Barbados,
à Lapónia, ao Alaska, aos eternos congelados

e ganha ainda a fantástica
máquina de descascar desejos
... e eis a brilhante vencedora
a D. Berta da Amadora!!!

(o Concurso do Método tem o patrocínio dos
electrodomésticos GRUNFT. Dirija-se a qualquer loja
GRUNFT e adquira já qualquer um dos magníficos
electrodomésticos da GRUNFT. GRUNFT com
GRUNFT porque grunfta melhor, GRUNFT!!)

quando passo numa montra onde tudo é tão bonito
entro logo, faço a compra
vejo logo necessito
eu sinto a falta de tudo
ao que é novo não resisito
só estou bem a consumir e se consumo logo existo
é assim quando consumo
o Visa corre entre carris
sinto-me assim não sei como, a modos que leve e feliz
prazer puro, entusiasmo
dura pouco, vai para o lixo
muito perto do orgasmo
muito além do capricho

(E leva ainda 101 contos para pôr no seu porquinho
mealheiro. Mais uma magnífica e inultrapassável oferta
das lojas GRUNFT!)

Carlos Tê, lusoQUALQUERcoisa


|


domingo, setembro 26, 2004

Ser (Português)

Se pensas que é agora a tua vez, e não vês que és
100% português, 100% impossível de vencer
o tão dotado, infalível, o mercado estrangeiro
vem de fora - "É verdadeiro!?"
Até o velho 1,2,3,4 passa a ser
one, two, three, four
E depois, não há tempo p'ra aprender
que nem sempre (sem saber) o movimento vem de fora
vem de toda a volta, fura a toda a volta
vem de barco, avião, comboio, imitação
entretanto vai andando, costumado
o povo português, vai perdendo a sua vez.

Sê português, encontra a tua vez
Ser português, ser contra a tua vez

E pensas que é agora que a história vai mudar
o artista Luso-Qualquer Coisa vai dançar
mas mesmo que não caia, vai ser sempre comparado
ainda bem que não está parado é um valor acrescentado
Ainda há muito que fazer por esta causa e rever
rever independentemente como pode ser
como pode ser expressa essa nova novidade
de ser português e ter a sua vez

Sê português, encontra a tua vez
Ser português, ser contra a tua vez

Vai haver um sol nascente na Nação, vai haver, vai haver

Se pensas que é agora a tua vez, e não vês que és
100% português, 100% impossível de vencer
o cobiçado, infalível, o produto importado
chega e já tem mercado
Até o velho 1,2,3,4 passa a ser, quer ser
one, two, three, four
E depois, ninguém quer saber
que nem sempre o movimento vem de fora

Vai haver um sol nascente na Nação, vai haver, vai haver

Hélder Gonçalves, lusoQUALQUERcoisa



|


sexta-feira, setembro 24, 2004

Início do Ano Lectivo

O governo decidiu que as famigeradas listas de professores vão ser feitas manualmente. Depois de nove meses a fazer a lista com os pés, vão agora finalmente fazê-las com as mãos. É um avanço. E no meio de tanto disparate, o Primeiro-Ministro garante que o Governo não pode depender mais das máquinas. A mim parece-me que as máquinas é que não podem depender deste Governo. Se nem um programa de computador consegue gerir, imaginem como vai gerindo este País. Este era o Primeiro-Ministro que queria que o Governo funcionasse por vídeo-conferência. Suspeito que acabaria a comunicar por sinais de fumo.

João Teixeira Lopes


|


quarta-feira, setembro 22, 2004

Não Vás

Ainda não, não sei como te olhar
provavelmente quero que não vás
ainda não, não sei o que pensar
é a hora crítica das manhãs

não, não vás

ainda não, não sei o que fazer
a esta hora tudo me soa errado
não, não quero saber
as coisas que tens a dizer

não, não vás

Diz o que vais fazer
vê o que vais dizer

ainda não é hora de partir
lá fora não pára de chover
ficar não é um verbo mau de ouvir
talvez, talvez haja algo a dizer

não, não vás

Luís G. Claro/Hélder Gonçalves, lusoQUALQUERcoisa


|


terça-feira, setembro 21, 2004

Pois é!

É o caos, é o caos, é a mutação
voltar atrás, pisar, dar um passo em frente
manipular os olhos doutra geração
terá que ser, vai ter que ser, é a evolução
Pois é, não é

olhos abertos a ler a situação
e reclamar, e reclamar um pouco de atenção
ao que de mais humano há na nossa condição
menos cegueira, economia e mais educação

Pois é, não é, ou yé!

é o caos, é o caos, o futuro a ser
e ninguém sabe o que ele vai, ele vai trazer
a gente quer que o mundo sobre para se viver
vamos fazer, fazer e acontecer

Pois é, não é, ou yé!

a gente vê, está a ver passar o filme
o forte tem a força, sem a força da razão
chegou a hora, está na hora da demonstração
ficou errada a teoria da evolução

Pois é, não é, ou yé!

Carlos Tê e Hélder Gonçalves, lusoQUALQUERcoisa


|


segunda-feira, setembro 20, 2004

Nós

- Isso é impensável - respondi, sobressaltado. - É absurdo. Não vês que estás a preparar uma revolução?

- Uma revolução, sim. Mas porquê absurdo?

- É absurdo porque não pode haver revolução nenhuma. Porque a nossa revolução - sou eu que o digo e não tu - foi a última. Não pode haver mais nenhuma revolução. Toda a gente sabe que...

- Meu menino, tu és matemático - tornou-me ela, fazendo com o sobrolho ângulos agudos de escárnio. - És até mais, és filósofo-matemático. Vamos: diz-me o último número.

- Que é isso? Não... Não percebo. Qual último número?

- Ora essa! O último, o supremo, o maior de todos os números.

- Isso é absurdo. Se o número dos números é infinito, que número é que tu queres que seja o último?

- E que revolução é essa que tu dizes que é a última? Não há última revolução. As revoluções são infinitas em número. A última revolução é coisa de crianças. O infinito assusta as crianças e é necessário que de noite tenham um sono descansado...

Ievgueni Zamiatine, Nós


|


Vergonha!

Vergonha é aquilo que falta ao Ministério da Educação e à respectiva Ministra, a qual revela não conhecer minimamente os problemas da educação. Não esqueçamos que quem também não tem vergonha é o antigo Ministro David Justino, o principal responsável político por toda esta balbúrdia, a actual Ministra herdou o caos produzido pelo seu antessessor e correligionário político e mais não fez do que lhe dar continuidade.

Os professores já deviam estar todos colocados antes do dia 1 de Setembro, para que nessa data se apresentassem ao serviço e começassem a preparar o novo ano lectivo.

Depois de todos os atrasos e promessas, já passa das 21 horas do dia 20 de Setembro de 2004, e no site da DGHRE nem resultados, nem explicações, nem desculpas.

Vergonha é o que não tem os que trocam as dificuldades governativas no seu País pelas mordomias no estrageiro (tentando convencer os outros que os benfícios pessoais são simultaneamente benefícios para o País). Vergonha é o que não tem quem exerce o poder sem uma autêntica legitidade democrática que, em situações idênticas, só pode ser alcançada com eleições, mesmo que a opção do povo fosse a mesma. Vergonha é o que não tem o Presidente da República que, em nome de uma de tal estabilidade política e governativa, resolveu não dissolver o Parlamento e nomear um Governo de opereta. Vergonha é o que não tem um Governo que anda em constantes contradições e só serve de chacota aos Portugueses.

O ridículo deste Governo já consegue ultrapassar a imaginação e creatividade do Contra-Informação.

Basta!

Depois de ouvir o debate do "Prós e Contras", fiquei um pouco com a sensação que afinal somos todos uns gajos porreiros, que afinal isto ainda está melhor do que nos anos anteriores e que a situação de professores, alunos e encarregados de educação se deve limitar à sua nobre função de cobaias passivas do sistema educativo e, por isso, não são mais do que um número ou, na melhor das hipóteses, um código informático.

Como nota destaco a notícia, dada em primeira mão, pela Ministra da Educação de que os resultados estão já a ser colocados na Internet e que por volta da uma ou duas da manhã deverão estar disponíveis. Já estou a ver os milhares de professores que vão ficar agarrados à net até às 3, 4 ou 5 da manhã para finalmente poderem saber em que escola irão leccionar. Amanhã haverá menos trânsito na hora de ponta matinal, disso tenho a certeza.

Para além disto também foram ditas coisas muito interessantes e, tal como afirmou Adelino Gomes, agora assim estavamos no ponto de iniciar o debate. Curiosa também a ideia manifestada por uma das intervenientes, que se defeniu como conservadora, como se os princípios gerais que defendeu como a exigência e uma educação para excelência fossem, preconceituosamente, valores de direita e não valores universais, mas pelo menos falou-se no assunto e assistiu-se a algumas ideias muito claras sobre educação.

Termino como Adelino Gomes, até parece que ainda estamos na pré-história da informática e, com tantos e tão bons especialistas e profissionais da educação, como é que os problemas diagnosticados se mantêm, ou até se agravam, de ano para ano.

3:00 (21 de Setembro): As colocações continuam por sair sem qualquer justificação ou explicação no site da DGRHE, mais uma vez alguém enganou a Ministra, ou a Ministra, maquiavelicamente, com um sorriso de felicidade nos lábios, nos enganou. Tenho vergonha do Governo que sou obrigado a suportar, sem que ninguém o tenha escolhido. Eles fazem a festa, mas quem se lixa somos nós. Até um dia...

8:30 (21 de Setembro): A saga continua. Pelos vistos, entre mais ou menos as 3:05 e as 8:30 alguma coisa deve ter estado disponível, mas voltou a não estar (soube através da TSF que as listas terão estado disponíveis durante cerca de 40 minutos pouco depois das três da manhã). Novos erros? Assim se brinca com o futuro de milhares de cidadãos portugueses (de facto ou em formação). Já não é só incompetência, já passou a ser obscenidade. Pelo que se tem passado nestas últimas semanas, e não só na educação, pergunto: será que o Governo se está a transformar numa casa de passe?

9:00 (21 de Setembro): O que se pode ler na página de consultas do Ministério: "Temporariamente indisponivel. Pedimos desculpa pelo incomodo." e não "Temporariamente indisponível. Pedimos desculpa pelo incómodo." Quando o desespero é total até as pequenas coisas se transformam em obstáculos intransponíveis. Espero não estar a incomodar, ou será que é "incómodar"? Acho que já toda a gente está à beira de um ataque de nervos e já não se diz coisa com coisa.

10:50 (21 de Setembro): Espero que perante o caos criado esta Ministra e a sua equipa não adopte o exemplo dos anteriores Primeiros-Ministros, António Guterres e Durão Barroso, e tenha a coragem de assumir o seu cargo e encontrar uma solução urgente para o problema, não esquecendo de exigir a presença do antigo titular da pasta, David Justino, e respectiva equipa, que devia estar a colaborar activamente na tentativa de resolução do problema. Não nos venham com mais desculpas patéticas, trabalhar é a vossa obrigação.

12:10 (21 de Setembro): Aqui estão os rostos dos responsáveis políticos pelo caos:


David Justino & Maria do Carmo Seabra

22:00 (21 de Setembro): Depois de um silêncio ensurdecedor a Ministra vem, finalmente, anunciar que tomou uma decisão. Face à incapacidade de resolução dos problemas informáticos, resultantes de um programa mal feito e não testado, digo eu que sou um leigo na matéria, o sistema informático de colocação de professores vai ser substituído por um sistema manual e o novo prazo para publicação das listas é 30 de Setembro. E o do início das aulas? Não está já fora de prazo?


|


domingo, setembro 19, 2004

Sonetos - II [Fernando Pessoa - Arco de Triunfo]

A Praça da Figueira de manhã,
Quando o dia é de sol (como acontece
Sempre em Lisboa), nunca em mim esquece,
Embora seja uma memória vã.

Há tanta coisa mais interessante
Que aquele lugar lógico e plebeu!
Mas amo aquilo, mesmo assim... Sei eu
Porque o amo? Não importa nada... Adiante!

Isto de sensações só vale a pena
Se a gente não se põe a olhar para elas.
Nenhuma delas em mim é serena...

De resto, nada em mim é certo e está
De acordo consigo próprio... As horas belas
São as dos outros, ou as que não há.



Álvaro de Campos - Londres, (uns cinco meses antes do Opiário) Outubro 1913


in Poemas de Álvaro de Campos, Edição de Cleonice Berardinelli, INCM, 1992



|


Não há morte nem princípio

"ah ainda andas agarrado a isso, transformar o mundo, não é?",
"e tu, não?",
"eu!?",

Mário Dionísio, Não há morte nem princípio


|


sábado, setembro 18, 2004

Apoio a Bagão Félix?...

Um dos blogs que costumo visitar com regularidade é o Barnabé. Os autores daquele blog movem-se na mesma área política que eu, segundo dizem não são militantes partidários (diz o meu amigo João Tunes, do infelizmente extinto Bota Acima, que saudades, num comentário a este post, que estou equivocado a este respeito, é bem provável que sim, mas também isso, para mim, é pouco relevante, pois a militância ou não militância é uma opção pessoal, mas quando há militância também deve haver maior sincronia de posições). Retomando o fioa da meada, o nível intelectual e cultural dos seus autores (Barnabé) está muito acima da média da população portuguesa, daí que algumas vezes caiam na tentação de se arvorarem em donos da verdade e caiam na tentação da demagogia.

Apesar da consideração em que tenho os seus autores, não sou um seguidista das suas posições nem me impressiona que A ou B seja filho de C ou D. Sou um adepto do relativismo e não do absolutismo ideológico. Quando se proporciona e tenho disposição, costumo entrar numa ou outra polémica nos comentários de alguns dos seus posts. No entanto desta vez resolvi manifestar a minha discordância aqui mesmo.

Esta discordância relaciona-se com o post Heresia: por uma vez Bagão tem razão, a propósito da sua intenção em acabar com os benefícios fiscais, tais como os PPR e PPH. Na minha modesta opinião, Daniel Oliveira apoia a decisão de Bagão Félix sem desmontar a carga demagógica nela contida.

Aparentemente ambos parecem ter razão e até compreendo perfeitamente o raciocínio de Daniel Oliveira, melhor do que o de Bagão Félix, até porque o Daniel dá uma explicação lógica para a sua tomada de posição.

A minha discordância, ou concordância, com Bagão Félix não é uma heresia, até porque sou ateu, e portanto não acredito em dogmas, mas sim política. Do ponto de vista humano o homem pode ser uma excelente pessoa, nem sequer ponho isso em causa, a minha divergência é política não pessoal.

Mas voltemos ao assunto. É verdade que este tipo de benefícios fiscais podem causar alguma distorção no sistema, mas não é acabando com eles que se resolve o problema. Compreendo que, a ser aplicada, em 2006 (ano de eleições legislativas), os cofres do Estado vejam aumentados os seus rendimentos (quem sabe se não haverá por aí algumas benesses), mas uma vez mais à custa dos mesmos, dos que cumprem integralmente as suas obrigações fiscais que, por isso, serão premiados com o agravamento das suas contribuições.

É evidente que é necessário fazer alguma coisa quanto aos benefícios fiscais deste tipo, mas a hipótese de correcção está do lado do Governo, propondo medidas de diminuição do valor sujeito a benefício fiscal e o de legislar no sentido da banca se ver obrigada a aceitar depósitos de valor siginificativamente mais baixo, de forma a permitir o alargamento deste benefício às pessoas de rendimentos mais baixos (confesso que não sei se o Estado pode intervir no sector privado, no que diz à obrigatoriedade de aceitação de depósitos de pequenas importâncias, mas bastava que imposesse essa obrigatoriedade à CGD). Portanto a minha discordância relaciona-se na necessidade de tornar essas isenções mais justas e não simplesmente acabar com elas.

O combate à evasão fiscal tem outros mecanismos que continuam a aguardar coragem política: levantamento do sigilo bancário, combate aos paraísos fiscais (começando pelo da Madeira e alargando essa luta aos outros, numa política articulada internacionalmente - não é fácil, mas nada é fácil na vida), controlo dos sinais exteriores de riqueza, combate à especulação e aos lucros em actividades não produtivas, combate à economia paralela. Não quis ser exaustivo, mas apenas contribuir para o alargamento do debate, tendo perfeita consciência que algumas das medidas só surtirão efeito se houver uma correcta articulação internacional, mas algumas delas são da exclusiva responsabilidade do nosso Governo, como é o caso do sigilo bancário, que já é adoptado por uma larga maioria de países ditos civilizados, inclusivé pela pátria do liberalismo económico e paradigma dos actuais governantes, os E.U.A.


|


sexta-feira, setembro 17, 2004

Pai e Filho falam da Guerra

PAI
Nã, tem-se dizer antes, enquanto há aldrabões, desses qu'aldrabam os trabalhadores, há guerras.

FILHO
Atão é a aldrabice que tem culpa das guerras.

PAI
Pois, pois - é isso mesmo e essa aldrabice chama-se capitalismo internacional.

FILHO
E atão nã se pode exterminá-lo?


Karl Valentin, Pai e Filho falam da guerra


|


quinta-feira, setembro 16, 2004

Canta sempre sem parar, ó Zeca!

"Zeca Afonso era um símbolo. Também na coerência: nunca se aproximou do poder, nunca deixou de ser quem era, revolucionário de corpo e alma. Sempre disponível para a solidariedade, gastou a voz por esse país fora, em aldeias onde era pago, na melhor das hipóteses, com galinhas. Recusou condecorações e compensações que lhe teriam dado desafogo económico. Visitava Otelo na prisão, enquanto se podia mover. Disse sempre da sua justiça em eleições e lutas políticas. Sempre à esquerda. Exemplo digno de coerências, quando a vida é dos carreiristas, a hora é do cinismo, a desesperança é cultivada com virtude, quando os "vampiros" são readmitidos na cidadania - lá estava, do outro lado."


Francisco Louçã, in Herança Tricolor, 1989


|


Revolta

Todos nós temos o direito à indignação, eu acrescento que, para além do direito, temos o dever de a usar sempre que algo é suficientemente grave e interfere com os valores da ética e da cidadania.

É este direito à indignação que, os que escrevem aqui no ACUSO!, cada qual à sua maneira, tenta fazer prevalecer.

Na minha modesta opinião perante o que vimos a assistir nas últimas décadas quer em Portugal, quer no Mundo, o direito à indignação parece já não ser suficiente. E não é suficiente porque os alvos dessa indignação parecem todos sofrer da mesma doença: autismo agudo com evolução e agravamento para crónico. Daí que estejamos à beira de ver transformar este caldo de culturas numa mistura altamente explosiva e destrutiva.

Neste sentido o direito à indignação está a transformar, ou pode (será que não deverá), transformar-se em direito à revolta.

Dos EUA ao Iraque, da Indonésia ao Afeganistão, de Cuba à Coreia, de Israel à Palestina, do Sudão à Venezuela, da Europa à África, da Ásia à América, de Este a Oeste e de Norte a Sul, alastram as ondas de intolerância, fundamentalismo, demagogia e dogmatismo.

Portugal não foge à regra:

Um Primeiro-Ministro que, perante a adversidade de um resultado eleitoral menos favorável, promete repensar e rever o que terá eventualmente feito mal e, no dia seguinte, foge para um exílio dourado na União Europeia. Esta fuga dos Primeiros-Ministros começa a banalizar-se, a diferença é que o outro recusou cozinhar um governo e este até teve ajudante de cozinha, o Presidente.

Um Ministro das Finanças, um tal de "Latão" Félix, perdão, Bagão Félix, que orgulhoso de ter inventado a roda, vai à televisão partilhar com todos os Portugueses o génio da sua descoberta. O País está em crise e é preciso gastar menos do que o que se produz. Apresenta umas contas de merceeiro e encontra como solução o princípio do consumidor pagador. Estás doente, então pagas segundo os teus rendimentos, tens que utilizar as estradas, então pagas, não recebes aumentos ou recebes muito pouco ou vais para o desemprego, mas a culpa da crise é tua e tens de trabalhar mais. Isto dito desta maneira até parece ter alguma lógica e tem, tem a lógica da demagogia. Pega-se em meias verdades faz-se sondagens de opinião e diz-se aquilo que largos sectores da sociedade portuguesa querem ouvir, não porque reflictam sobre os assuntos, mas porque não têm sequer capacidade de reflectir sobre eles, porque não lhes foi facultado um ensino de qualidade que lhes permitisse formarem-se como cidadãos cumpridores, mas exigentes. Oops. Lá estamos no ensino outra vez. Vamos virar a página.

Como o dito Ministro se limitou a dizer o que toda a gente sabe, esperava-se que dissesse que medidas iria tomar para contrariar a tendência, mas não, nada de novo, tudo igual ao que foi feito anteriormente que até já se vê uma luzinha no fundo do túnel, porque no último trimestre aumentou o consumo. Pergunto: será que os Portugueses começaram a ganhar mais e eu não dei por nada? Será que a inflação e a taxa de desemprego baixaram? Será que a produção industrial aumentou? Será que os estrangeiros que estiveram cá durante o Euro 2004 utilizaram os serviços portugueses? Quem quer adivinhar a(s) resposta(s) certa(s)?

É verdade, as nossas exportações aumentaram 8%, fantástico, não, não é ironia, é mesmo fantástico, o pior é que no mesmo período as importações aumentaram 10%.

Se todos os que utilizarem as SCUT pagarem, o Estado poupa uns milhões e está o problema resolvido. Mas as SCUT foram feitas para quê? Não foi para promover a instalação de indústrias e promover a fixação de população nas regiões deprimidas? Então vamos começar a pagá-las sem primeiro fazer uma avaliação dos resultados? E se eles tiverem sido positivos? As empresas que se fixaram nesses locais, que criaram postos de trabalho, vão fechar as portas, porque não têm condições para pagar os custos, porque alguém alterou as regras a meio do jogo só para a sua equipa vencer, mesmo que seja com o recurso à batota. E as vias alternativas às SCUT, onde estão? No litoral é simples, podem sempre deslocar-se pelo areal, pelo menos onde houver, mas e no interior? Será que vai haver subsídios para a compra de carros todo-o-terreno?

Claro, é preciso trabalhar mais e, preferencialmente, ganhar menos, os trabalhadores por conta de outrém, entenda-se. Não sabem quem são? Então são aqueles que pagam os impostos e que provavelmente vão pagar mais impostos, digo eu, não sei, que eu sou completamente leigo e estou para aqui só a desabafar. Então os outros, não há exigências? Há pois, agora é a minha vez de ser um bocadinho demagogo, mas não resisti, despede-se e dá-se reformas altíssimas, então não é verdade que ainda existe uma margem de manobra animadora? Parece que os descontos dos trabalhadores por conta de outrém ainda conseguem pagar a 80% dos reformados, ora até chegar aos 100 ainda há uma relativamente segura margem de manobra. Depois, prontos, põe-se uns amigalhaços lá num cargo importante qualquer, de preferência uns quantos a fazer a mesma coisa que é para criar mais confusão. A páginas tantas dá-se um murro na mesa, despede-se os tipos e dá-se-lhes uma reforma porreira. Ano e meio de emprego, reparem que eu disse emprego em vez de trabalho (podem pegar por aí porque é mais uma pequena manobra demagógica, é que isto da demagogia é divertido e eu também gosto de me divertir um pouco, quando não estou a trabalhar, que o trabalho é coisa muito séria).



Pedro Santana Donald Flopes
(O Grande Timoneiro)


Já estou a ficar cansado, muito mais haveria para dizer, mas como este post já está muito longo, vou mesmo ficar por aqui, pode ser que volte ao tema mais tarde, muitas coisas ficaram por dizer. Ficam sempre coisas por dizer.

Resolvi colocar aqui a imagem do Pedro Santana Donald Flopes. Não sei porquê? Talvez seja um fetiche qualquer. Talvez a minha revolta comece por aqui, por ridicularizar a casta política.


|


Caos no Ensino Público

Este artigo saiu inicialmente no Cucamacuca, que é um blog mais vocacionado para os assuntos ligados ao ensino e à educação. Pareceu-me que seria interessante partilhar esta minha rápida e até pouco cuidada reflexão, com um público mais diversificado, daí ter optado por publicá-lo aqui também.

Eis então o artigo:

Nada me move contra o ensino privado. Quem quiser e sobretudo, quem tiver meios económicos, pode perfeitamente optar pelo ensino privado, quantas mais alternativas houver melhor, o que condeno é que se queira fazer crescer um à custa da desvalorização do outro.

O novo ano escolar deveria iniciar-se hoje na esmagadora maioria das escolas públicas. Ora a realidade é, como todos sabem, bem diferente. Até mesmo nas escolas das cidades de Lisboa e Porto, onde a população escolar tem vindo a baixar e, por isso, o número de vagas positivas tem vindo a diminuir, o quadro de professores é estável e maioritariamente envelhecido, há falta, nalguns casos significativa, de professores, mas onde o problema atinge maior gravidade é na periferia das grandes cidades e no interior do país, onde os valores podem atingir ou mesmo ultrapassar os 50%.

Perante este quadro de sucessivo adiamento da colocação de professores, reparem que estamos a falar de professores, isto é de docentes que estão já no sistema e que pertencem, no pior dos casos ao quadro de zona pedagógica, faltando ainda colocar um número significativo de professores provisórios, ou candidatos a professores, para preencher as vagas que mesmo depois da colocação dos efectivos subsiste, o Ministério continua a afirmar que a maioria das escolas entrarão em funcionamento entre 16 e 23 de Setembro.

Pois é, até directamente ou através das DRE's, o Ministério pressiona os Conselhos Executivos para abrir naquele prazo sem ter em atenção o número significativo de professores em falta, a planificação do novo ano que não se fez porque em todos os departamentos faltam professores em percentagens muito elevadas e assim o trabalho de equipa e de planificação e preparação do novo ano lectivo fica hipotecado.

O trabalho do professor não se limita aos respectivos tempos lectivos. Há toda uma diversidade de tarefas que são necessárias ao bom funcionamento da escola que ultrapassam em muito os tempos lectivos.

Evidentemente que há maus professores, que não levam a sério a sua profissão, umas vezes por formação, outras por deformação e ainda outras devido ao desgaste e às situações de stress constantes a que está sujeito o professor. Umas têm justificação, outras não, mas o que é necessário combater é a tendência que todos temos para a generalização a partir do mau em vez do bom. É certo que não devemos utilizar a generalização, seja em que circunstâncias for, mas há que valorizar a nossa profissão, apostar no que se esforça apesar das condições de trabalho a que está sujeito e penalizar o que abusa, mas aqui como em qualquer função o problema não está no que não trabalha, mas sim naqueles que, tendo a responsabilidade de pôr o sistema a funcionar em condições, não cumprem as suas obrigações e responsabilidades.

Onde estão os responsáveis do anterior governo que iniciaram este caos? Foram responsabilizados pelo mau funcionamento das colocações e pela falta de apoios ao sistema educativo? E os actuais responsáveis onde vão estar depois de abandonarem os cargos que ocupam agora? Vão ser responsabilizados pelo seu mau trabalho? Não será verdade que uns e outros encontrarão sempre um qualquer bode expiatório para aligeirarem as suas responsabilidades?

É altura dos professores serem exigentes nas suas escolas e não permitirem que sejam usados constantemente. Não devem possibilitar que se mascare a abertura do ano lectivo com manobras fictícias só para estatisticamente o Ministério dizer que afinal abriram não sei quantas escolas. Mas em que condições? Não interessa saber? E os professores que foram deslocados 200, 300, 400 ou mais quilómetros e ainda têm de arranjar alojamento? E como ficam as famílias dos professores? E quando o casal é constituído por professores e um é colocado no norte e outro no sul e depois têm que pagar duas rendas de casa mais a prestação da sua residência habitual? E se ainda por cima têm filhos e estes têm que ser separados ficando um(s) com o pai e outro(s) com a mãe para que nenhum fique sobrecarregado e consiga fazer o seu trabalho com um mínimo de dignidade? Quantas mais perguntas poderiam continuar indefinidamente a surgir para esbarrarem sempre com a mesma parede de silêncio e incompetência.

Basta!

É que de palavras estamos fartos. Já chega de patos donais que falam, falam sem cessar, mas ninguém entende nada do que dizem, porque o seu discurso é vazio. Se o Ministério da Educação é responsável pelo caos, o governo e o seu máximo representante não o são menos, porque aos problemas respondem com autismo, inoperância, silêncio, incapacidade e incompetência.

Basta!

Para concluir só gostaria de deixar claro que este artigo foi escrito de uma penada sem o pensar maduramente, no entanto a reflexão aborda alguns aspectos importantes que podem permitir lançar uma discussão sobre o assunto e, então sim, ir burilando algumas ideias que aqui só ficaram apontadas.


|


terça-feira, setembro 14, 2004

Sonetos - I [Fernando Pessoa - Arco de Triunfo]

Quando olho para mim não me percebo.
Tenho tanto a mania de sentir
Que me extravio às vezes ao sair
Das próprias sensações que eu recebo.

O ar que respiro, este licor que bebo
Pertencem ao meu modo de existir,
E eu nunca sei como hei-de concluir
As sensações que a meu pesar concebo.

Nem nunca, propriamente , reparei
Se na verdade sinto o que sinto. Eu
Serei tal qual pareço em mim? Serei

Tal qual me julgo verdadeiramente?
Mesmo ante as sensações sou um pouco ateu,
Nem sei bem se sou eu quem em mim sente.



Álvaro de Campos - Lisboa, (uns seis a sete meses antes do Opiário) Agosto 1913


in Poemas de Álvaro de Campos, Edição de Cleonice Berardinelli, INCM, 1992



|


segunda-feira, setembro 13, 2004

Abriu a caça!?

Em 1993 o então Secretário de Estado da Cultura fez passar um decreto-lei que ficou conhecido como a "lei da caça ao tesouro".

Esse decreto permitia a venda de artefactos provenientes de escavações subaquáticas como meio de angariação de fundos para financiar as campanhas e gerar lucros. Dizia-se que isto permitia a abertura da "investigação" à iniciativa privada.

Que bom! Passariamos a ver o nosso passado à venda nas melhores casas de leilões. E, o que era ainda melhor, como era legal e não temos dinheiro saía tudo para o estrangeiro!

A coisa foi parada a tempo, com o congelamento da lei em 1995, a posterior revogação em 1997 e a criação do Centro Nacional de Arqueologia Náutica e Subaquática.

Hoje o tal Secretário de Estado é Primeiro Ministro (sim, esse mesmo) e no seu governo estão o autor da célebre lei e a (ex?) consultora de uma das maiores empresas de caça ao tesouro, Dra. Maria João Bustorff Silva, por acaso (ou não?) Ministra da Cultura!

Por enquanto ainda não se viu nada mas, pelo sim pelo não, é melhor ficarmos atentos.

Não é que eles não existam (que os há e muitos) ou que os artefactos não sejam vendidos (há quem ganhe balúrdios com isso) mas pelo menos que tenhamos o direito de não o permitir!


|


domingo, setembro 12, 2004

Descarga de Consciência

Nos últimos dias tenho andado um pouco arredado da blogosfera, sobretudo do Acuso! "2". Em primeiro lugar porque tenho tido outros afazeres e em segundo porque precisava de dar alguma atenção aos outros blogs onde também mando umas bocas: Acuso! "1", A Chama do Dragão e Cucamacuca.

Por outro lado, embora quer a nível nacional, quer internacional, neste últimos dias se tenham passado vários factos dignos de comentário, a verdade é que muitos blogs publicaram vários posts sobre esses eventos, grande parte deles mais ou menos coincidentes com a minha opinião, por isso não fazia sentido estar a escrever mais do mesmo. No entanto passados alguns dias e depois de assentar ideias voltarei em breve para fazer os meus próprios comentários.

Para mim a blogosfera funciona mais como um escape do que a vã tentativa de conquistar leitores, embora, evidentemente todos sejam bem-vindos.

Agora que retomei o contacto convosco, podem estar descansados, que a partir de amanhã voltarei para fazer os meus comentários aos acontecimentos que entretanto se foram passando.

Os assuntos são muitos e destaco, entre outros, os seguintes: o chamado "Barco do Aborto" e a colocação de professores, a nível nacional; o atentado terrorista de Beslan, o 11 de Setembro e os reféns no Iraque, a nível internacional.

Em jeito de introdução aos futuros artigos que aqui irei publicar sobre aqueles ou outros assuntos, há uma frase proferida por Emídio Guerreiro, na festa de homenagem pelos seus 105 anos que não tem deixado de me martelar a cabeça e cito, mais ou menos de cor: "nestes últimos anos temos vindo a assistir à crescente substituição do racionalismo pelo dogmatismo". Grande lucidez.

De facto a Humanidade tem dado passos gigantescos em direcção ao passado não só no aumento do dogmatismo, mas também em fenómenos a ele associado: o fanatismo, o populismo, a demagogia e o preconceito. Emídio Guerreiro não podia ter sido mais certeiro.

Urge travar uma batalha pelo racionalismo, pela relatividade, pelo direito à diferença e pela integração.


|


segunda-feira, setembro 06, 2004

Emídio Guerreiro 105 Anos

Faz hoje 105 anos (nasceu a 6 de Setembro de 1899) o Professor Emídio Guerreiro, humanista e grande lutador contra o regime salazarista e o Estado Novo.



Emídio Guerreiro


Em Portugal participou na maioria das acções para o derrube do regime e esteve prisioneiro no campo de concentração do Tarrafal. Lutou na Guerra Civil Espanhola, nas Brigadas Internacionais, em defesa dos valores republicanos e democráticos. Em França, durante a ocupação Nazi lutou na resistência francesa contra o nazismo e pela libertação da França. Hoje vive lúcido e de saúde em Guimarães, onde lhe vai ser feita uma homenagem.


|


domingo, setembro 05, 2004

Nordestes

O campo é bonito visto assim, ao longe, de memória. Perde o cheiro a estrume, já não suja as mãos. De memória, as moscas do gado já não picam, as silvas já não arranham as pernas, o pó não seca as narinas. A paisagem é muito mais bonita, de longe. Aqui sentado, ganha tons de aguarela. A paisagem lá mesmo, dentro da paisagem, é muito mais dura. Tem bicharada e não há roupa que resista.

Eu não penso que os transmontanos sejam melhores ou piores que os outros. Mas o facto de terem sido sempre esquecidos permitiu-lhes guardar memórias que os filhos e netos das cidades já esqueceram. E antes que a Televisão vire definitivamente a única memória oficial, aproveitemos para falar do campo, mesmo arriscando já só conseguir fazê-lo em tons de aguarela.

Porque na verdade, eu tenho um grande respeito por esse povo rústico, iliterato do Minho, da Galiza, de Trás-os-Montes que mal falava um latim mal aprendido de ouvido. Foram esses labregos, esses parolos, mais tarde com a ajuda dos saloios, que inventaram esta língua lindíssima que hoje me diverte e tortura. Quando os portugueses chegaram ao Brasil, mais ou menos 5 milhões de indígenas falavam 1175 línguas diferentes. Hoje, 270 mil falam 170, talvez menos.

Cada vez que morre um idioma, é um bocado do património universal que se perde. Hoje morre o latê, amanhã morre o Português. E antes que o Americano vire língua única, universal, aproveitemos para respeitar a pouca memória que nos vai restando. [O Americano pode ser uma língua muito mais prática do que foi o Latim, mas não chega a todos os recantos da alma.]

Além disso e afinal, como dizia aquela senhora índia que o Júnior Sampaio entrevistou no Brasil: "A nossa língua é a nossa identidade."

Por favor desliguem os telemóveis.


José Carretas



Manuel Mogadouro Cá na aldeia havia um velho Capitão, tipo seco, duro, de antigamente. "Disciplina, respeito". Está a ver?

Kleber Não só vejo como sou filho de um, são os nossos coronéis.

Manuel Mogadouro Este capitão, quando lhe nasceu o primeiro filho, pegou no quase recém-nascido e atirou-o ao tanque da Quinta.

Kleber A Selecção Natural, a Lei do mais forte... E o né-ném aprendeu a nadar como você.

Manuel Mogadouro Morreu afogado.

Kleber Foi preso o seu Capitão?

Manuel Mogadouro Já viu algum "Coronéu" ir preso, lá no seu Nordeste? Dois anos depois, nasceu-lhe uma filha. O mesmo ritual do tanque...

Kleber E a criança morreu.

Manuel Mogadouro Hoje é uma mulher dura e seca, como o pai. Sabe qual foi o comentário do homem quando o bebé veio à tona de água? "Que alívio, cheguei a pensar que a teoria pudesse estar errada!"

Kleber [irónico] Mas é assim que se faz a raça Lusitana.

Manuel Mogadouro [igualmente irónico] A raça Lusitana!... Há alguns portugueses com costados lusitanos... Tal como há portugueses mouros, suevos, alanos, fenícios, gregos, malteses, iberos, cartagineses, muitos, muitos africanos, gauleses, judeus, ciganos... E às vezes, chega a haver portugueses com costados... portugueses. O português é mistura mais forte que a raça pura. É a massa mais consistente, talvez por ser descendente de muita gente.

Kleber "O brasileiro traz dentro de si

Um português, um negro e um índio guarani"

Manuel Mogadouro Ganhou.

Kleber "Mas eis que no esplendor da raça, uma mulata passa...

O negro dança.

O índio pega fogo

E o português... avança!"

Manuel Mogadouro Ganhámos.


in Nordestes, de José Carretas e Júnior Sampaio


|


A Solidariedade nunca é Demais

Li, na Voz do Seven, este pedido de divulgação de um caso que já se arrasta há demasiado tempo e não quis deixar de me associar a esta iniciativa, pedindo a todos os blogueiros, que eventualmente passem por aqui, para fazer o mesmo.

Sejamos então solidários e tentemos contribuir de algum modo para a tentativa desesperada de uns pais que procuram saber o paradeiro do seu filho raptado, o Rui Pedro.




|


sábado, setembro 04, 2004

Atenção! Eles andam por aí...

Bom este texto não é da minha autoria, mas até tenho pena de não ter sido capaz de fazer algo de semelhante.

Recebi-o hoje através de e-mail e vou divulgá-lo de imediato. É que a estupidez deve ter limites e é preciso combater esses doidos que têm a mania que conhecem todos os carros da Brigada de Trânsito e as localizações dos radares que vigiam as nossas estradas e, porque se julgam mais inteligentes que todos os outros, estão sempre a divulgá-los pela net, até ao dia em que um tresloucado com uma taxa de alcoolémia superior a 4, a conduzir na auto-estrada em contra-mão a mais de 230 Km/h e munido da dita lista de matrículas, chocar com ele de frente.

Então cá vai:

Caros amigos, ( Isto é confidencial...)

Estes dados foram-me fornecidos pelo primo de um amigo meu, cujo pai trabalha com a irmã da cunhada mais nova de um agente, que mora ao lado de um coronel reformado. A filha deste pensionista namora com o filho mais velho do sapateiro que engraxa as botas dos militares.

A Brigada de Trânsito acabou de adquirir 34 novas viaturas de Intercepção e controlo. São meia-dúzia de Fiat 127... a debitar cerca de 185 cv, costumam andar na A1 entre Condeixa e a recta de Pegões. Atenção! Estes carros são conduzidos por mulheres austríacas, vestidas à vianense e levam a bordo 3 crianças. Para detectar os infractores estão equipadas com um radar rotativo no tejadilho. Como disfarce levam um autocolante da Milupa onde se pode ler "Bebé a bordo" Fazem também parte da frota 24 Talbot Samba 1.1 (com 215 cv!) que circulam em fila indiana pelo IP5. Estes carros são conduzidos por antigos maquinistas da CP. A sirene está escondida por baixo de um mocho de plástico no tejadilho. Na Nacional 125, desde o final do mês passado, circulam dois Renault 12 beges, com condutores octogenários vestidos à sevilhana. Estes carros levam montada uma câmara de estúdio no tejadilho e sempre que alguém ultrapassa os limites o condutor dá indicações ao operador de câmara para começar a filmar. Em simultâneo é feita uma ligação via telemóvel para o segundo carro que prontamente acompanha o transgressor.

Assim que estiverem lado a lado, o condutor do segundo carro liga de volta para o carro com a câmara dando-lhe a leitura exacta da velocidade. Convém salientar que debaixo do capô deste Renault 12 estão mais de 245 cv... a centralina destas máquinas foi reprogramada em Luanda! As restantes duas viaturas são Toyota Dyna 2.5D, de caixa aberta, e usam como disfarce 1500 kg de sacos de cimento.

Na cabina vão três lutadores de sumo, dois dos quais comandam um sofisticado radar. A câmara é comandada pelo condutor que também está encarregue de todas as comunicações com a central. Estas Toyotas estão preparadas com um kit TTE e já foram vistas na serra da Estrela, a subir de Sabugueiro para a Torre, atrás de um 2CV a 196 km/h.

PS: Um vizinho do meu primo teve que vender o Punto GT para pagar a multa... Eles não perdoam!

Anónimo


|


quarta-feira, setembro 01, 2004

O Regresso da Agitação e da Estupidez

A casta política estive de férias e o país viveu um período de acalmia em que as situações se foram resolvendo sem grandes incidentes nem agitação propagandística.

Agora que regressam ao trabalho é vê-los por todo o lado em manobras de promoção e/ou de afirmação à procura das luzes da ribalta, proporcionadas por qualquer meio de comunicação social, mas em que o preferido é, sem dúvida nenhuma, a televisão.

Regressa a agitação e a estupidez.

Começam a invadir as nossas casas e as nossas vidas, a condicionar as nossas escolhas e a limitar o nosso pensamento. Transformam banalidades em casos de vida ou de morte em que está em causa a soberania da Nação. Estamos na presença de autênticos terroristas.

Só temos uma arma para os combater. A utilização do nosso direito e dever cívico de participar e de mostrar a nossa indignação.

Usemos pois os nosso direitos e acabemos com a feira de vaidades da casta política.


|